Com foco na discussão sobre o cenário liberal no mundo, um debate acalorado dividiu opiniões entre palestrantes na tarde desta terça-feira (9), na 32ª edição do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre. Ao longo de cerca de 90 minutos, o economista inglês Andy Duncan e o sociólogo Demétrio Magnoli expuseram seus pontos de vista a respeito de temas como o Brexit e provocaram reações distintas entre o público, que lotou o Centro de Eventos da PUCRS. O painel ainda teve a presença da cientista política guatemalteca Gloria Álvarez.
O primeiro a se manifestar foi Duncan, que defendeu a saída do Reino Unido da União Europeia. Na avaliação do inglês, a medida é necessária para que seus concidadãos tenham maior liberdade em diferentes setores. Em seu discurso, o economista mencionou que a fragmentação de blocos como o europeu e de países — inclusive do Brasil — diminuirá o poder do setor público. Duncan ainda declarou que a União Europeia impôs ao Reino Unido restrições econômicas e “imigração forçada” nos últimos anos.
— Se você dividir um Estado pela metade, o poder dos novos será menor do que o do original. A maior parte dos eleitores que votou a favor do Brexit é formada por trabalhadores, pessoas normais — pontuou o inglês, aplaudido pelo público.
Na sequência, Magnoli rebateu a ideia do economista. Para o sociólogo, argumentos usados na defesa do Brexit contrariam o pensamento liberal.
— O Brexit é mau negócio do ponto de vista econômico. Um dos argumentos usados em sua defesa foi o de controle de fronteiras. Isso não é liberal. A ideia de criarmos nações menores ou de separar o Rio Grande do Sul do restante do Brasil encobre seu conteúdo nativista. A ideia de nação de sangue sustentou a Alemanha de (Adolf) Hitler — pontuou.
Magnoli ainda mencionou que as redes sociais fomentaram a criação de “bolhas”, prejudicando o debate de opiniões políticas diferentes. Para o sociólogo, é nesse ambiente em que se criam novos tipos de “inversão de linguagem”, que consideram, por exemplo, que “protecionismo é liberalismo”, “nazismo é de esquerda”, “ditadura é democracia” e “charlatanismo é filosofia”.
Por fim, o sociólogo afirmou que a aliança entre ideias liberais e conservadoras está “fadada ao desastre”:
— Esse pacto diabólico entre pessoas que se intitulam liberais e a extrema direita da xenofobia é a pior coisa que poderia acontecer, não só para a democracia, mas também para o liberalismo. Se o pacto for levado adiante, o liberalismo será marcado como o pensamento dos xenófobos, dos racistas.
Ao encerrar sua fala, Magnoli foi alvo de vaias e gritos de “fora!” da plateia. Em seguida, também passou a receber aplausos de outra parcela do público presente no evento.
Depois da fala de Magnoli, a mediação do painel concedeu nova oportunidade para Duncan comentar a explanação do colega de painel. O economista disse que “não esperava ser alvo de ataque” do sociólogo.
— Acho que o Demétrio está a favor da democracia, mas eu também estou. Se você crê na democracia, precisa respeitar o desejo de quem votou a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. Vim aqui para dizer o que penso, não esperava por um ataque na sequência — relatou o economista.
Vestida com uma camiseta que carregava a bandeira brasileira estampada, Gloria Álvarez criticou governos de esquerda na América Latina. Em seu discurso, a guatemalteca afirmou que o maior problema da Venezuela de Nicolás Maduro é o socialismo.
— Os Estados, quanto mais grandes são, mais roubam. Não há nada mais triste do que um venezuelano que diz que o problema de seu país não é o socialismo, mas, sim, a corrupção. Socialismo é corrupção. O poder corrompe — observou a palestrante, que recebeu aplausos do público.
Gloria finalizou sua manifestação com a defesa da liberdade para além da economia. Segundo a cientista política, o liberalismo precisa se separar do conservadorismo em assuntos que envolvem, por exemplo, sexualidade, aborto e ecologia.
— Ganharemos a batalha com o marxismo cultural se nos separarmos dos conservadores — frisou.
O Fórum da Liberdade é organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Neste ano, o tema central do evento avalia o quão o Brasil está aberto a reformas estruturais.