A pujança que tomava conta do polo naval gaúcho seduziu Nagylla Nária Firmo, 32 anos, e Renato Lopes, 44. Em 2014, o casal deixou sua terra natal, o Rio de Janeiro, para fixar residência em Rio Grande, na região sul do Estado, e trabalhar em um dos estaleiros que operavam na cidade. O que parecia promissor, entretanto, ficou à deriva.
Com o surgimento da Operação Lava-Jato, que apontou irregularidades em contratos do setor naval, e a redução no número de encomendas de plataformas pela Petrobras, as empresas do polo deram início a ondas de demissões. Formado em Processos Gerenciais, Renato foi despedido ainda em 2014. Nagylla, engenheira de produção, perdeu o emprego dois anos mais tarde, em 2016.
Diante das dificuldades no polo, ambos decidiram empreender em uma nova área, sem deixar o sul do Estado. Depois de buscar consultoria na área gastronômica, o casal inaugurou, em 2017, um pub no balneário Cassino, que pertence a Rio Grande. Com os resultados colhidos ao longo do primeiro ano de atividades, Nagylla e Renato ampliaram o espaço do estabelecimento, batizado de Open Garage Pub, para ter condições de receber mais clientes em 2018 — o local hoje pode abrigar até 130 pessoas sentadas, diz o empresário.
— Quando fui demitido, fiquei alguns meses pensando na vida. Cheguei a abrir com outros sócios uma empresa de consultoria na área de engenharia, mas não tínhamos serviço e fechamos uns seis, sete meses depois — narra Renato. — Aí, passando pelo Cassino, tive a ideia de montar um pub, porque sentia que havia carência nesse nicho na região. Convidei a Nagylla. Ela ficou com um pouco de receio, mas topou — completa.
Quando fui demitido, fiquei alguns meses pensando na vida. Cheguei a abrir com outros sócios uma empresa de consultoria na área de engenharia, mas não tínhamos serviço e fechamos uns seis, sete meses depois.
RENATO LOPES
44 anos, sócio do Open Garage Pub
Segundo o casal, ao decidir empreender, ambos passaram a frequentar bares e restaurantes com olhar mais "crítico", na tentativa de encontrar bons exemplos para o novo projeto. Inicialmente, um dos principais desafios foi compreender as características e os costumes do público no Cassino.
— Até hoje buscamos entender, exatamente, o que motiva o cliente a sair de casa — frisa Renato.
— Morávamos em cidades maiores no Rio de Janeiro, em que havia diversas opções de lugares para ir após o trabalho. Por ser menor, Rio Grande tem perfil diferente — acrescenta Nagylla.
Ao longo de 2019, o casal planeja expandir os negócios. A ideia dos empreendedores é abrir franquias ou filiais do pub em municípios próximos.
— Vamos reservar tempo para pensar na expansão — garante Renato.
Gerente da regional metropolitana do Sebrae-RS, Paulo Bruscato afirma que, em momentos de dificuldades no mercado de trabalho, assim como o vivenciado pelo casal em Rio Grande, é natural que mais pessoas busquem abrir negócios. Esse movimento, explica Bruscato, chama-se de empreendedorismo de necessidade.
— A crise econômica impulsionou a vontade de empreender. Existem o empreendedorismo de necessidade, que é mais passível a erros, e o de oportunidade. Mas também é importante dizer que a abertura de empresas vem sendo estimulada dentro das universidades, que não preparam mais os alunos apenas para ser funcionários — ressalta Bruscato.
No Estado, 152,1 mil empresas começaram a operar entre janeiro e novembro de 2018, aponta a Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul. O número é 82,3% mais elevado do que o registrado em todo o ano anterior (83,4 mil).
Entrevista
As condições do mercado de trabalho, em 2019, dependerão do desempenho da economia como um todo. Se o novo governo mostrar, logo de cara, que quer fazer a reforma da Previdência e consertar a questão fiscal no país, teremos um choque de otimismo.
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