A chegada do verão e das altas temperaturas faz com que o consumo de energia elétrica também aumente. Esta mudança de comportamento deve fazer com que a CEEE bata uma meta histórica no verão de 2019: o índice correspondente à demanda instantânea do sistema de energia deve ter crescimento de 4,45% em relação à máxima registrada até hoje.
A previsão foi feita pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável pelo controle da transmissão de energia no país, e repassado à CEEE. A projeção se refere à demanda instantânea, que corresponde à exigência de carga no sistema e está relacionada à grande quantidade de pessoas consumindo energia ao mesmo tempo — diferente, por exemplo, do consumo, que só é conhecido no fim do mês, quando as contas de luz são entregues aos consumidores.
O aumento está relacionado a fatores como altas temperaturas, crescimento histórico e retomada da economia, que faz com que as pessoas usem ar condicionado com mais frequência. O maior pico registrado na história foi em 6 de fevereiro de 2014, quando a demanda chegou a 6.902 megawatts — os termômetros marcavam 38,2° C na subestação de transmissão em Canoas. A previsão para o verão de 2019, que pode se confirmar em janeiro ou fevereiro, é de 7.209 megawatts, aumento de 4,45%. Em dezembro de 2018, a elevação da temperatura para 35,9°C fez com que o maior pico do ano fosse atingido: 6.218 megawatts.
— A alta exigência do sistema depende de uma sequência de dias quentes. Assim, não há tempo de resfriar e o pessoal usa muito ar condicionado, por exemplo. Tem uma relação direta com a refrigeração. A previsão não tem uma data específica, mas sabemos que isso deverá ocorrer no verão — explica o engenheiro eletricista da CEEE, Gustavo Arend.
Apesar disso, as garantias são de que o sistema da concessionária está pronto para atender a elevação do consumo. Em nota, o ONS informou que não identificou a possibilidade de ocorrências no Rio Grande do Sul devido ao aumento das temperaturas. Segundo o texto, o sistema elétrico da região tem condições de atender à demanda, seja a partir de recursos próprios, seja a partir da transferência de energia de outras regiões ou do intercâmbio de energia com outros países.
Sistema está preparado, diz CEEE
Gustavo Arend diz também ter garantia de que a CEEE tem capacidade para suportar a alta demanda por energia elétrica. A concessionária é responsável, entre outras regiões, pelos litorais norte e sul e pela Costa Doce, áreas que registram grande consumo nesta época do ano:
— Normalmente, quando há uma previsão de grande consumo, preparamos o sistema para que seja atendido, e fazemos simulações para saber se ele suporta ou não. Como em 2014 suportamos a maior demanda da história até então, fizemos várias obras de lá para cá para atender um crescimento que acabou não se confirmando. Se tivéssemos encontrado alguma restrição, o ONS teria nos pedido para elaborar algum plano de ação, mas isso não ocorreu. Estamos preparados — garante.
Comuns no litoral no período de verão, as quedas ou faltas de luz também devem diminuir. Segundo a CEEE, a cada ano são feitas melhorias para tentar reduzir o número de ocorrências, que são registradas principalmente quando há muitas pessoas utilizando energia elétrica ao mesmo tempo — quando há quedas de luz, por exemplo, pode significar que foi feita transferência de carga para equilibrar o sistema, procedimento padrão adotado quando há alto consumo.
Desde 2015, R$ 250 milhões foram investidos em oito novas subestações, cinco ampliações de capacidade de subestações e seis novas linhas de transmissão. Deste total, R$ 45,6 milhões foram investidos no Litoral Norte. A CEEE afirma também que contrata novas equipes para atender à demanda extra no verão, e mantém grupos estratégicos em diferentes pontos do litoral.
— A gente tem um sistema no litoral para atender, teoricamente, estes picos. Mas muitas vezes a carga acaba surpreendendo, dá coincidência e as pessoas ligam muito o chuveiro ao mesmo tempo, como, por exemplo, no dia 31 de dezembro, quando voltam da praia e estão se arrumando para a virada do ano. Às vezes acaba dando um defeito nos transformadores, que ficam nos postes. De um verão para o outro, os equipamentos funcionam normalmente e, muitas vezes, o defeito só é identificado quando começa a entrar carga — detalha Arend.
Nas áreas da RGE e da RGE Sul, a previsão é de que os picos de exigência do sistema não ultrapassem os de 2018, que chegaram a 1.945 megawatts na área da RGE e 2.024 megawatts na área da RGE Sul. Segundo as empresas, a capacidade do sistema de distribuição de energia está adequada à demanda prevista. Nos últimos dois anos, foram construídas 10 novas subestações que ampliaram a capacidade energética. Em 2018, o investimento chegou a R$ 485 milhões entre janeiro e setembro.
Temperaturas
O verão de 2019 deve ter temperaturas altas, mas nada muito diferente do que os gaúchos já estão acostumados. A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de que a faixa leste do Estado — o que inclui o litoral — terá temperaturas "ligeiramente acima do normal" no mês de janeiro, o que significa de 0,5°C a 1,5°C acima da média histórica. Em fevereiro, a elevação deve ser percebida em todo o Estado.
— O fenômeno El Niño pode provocar um aumento de chuvas. Isso faz com que as mínimas se mantenham relativamente altas e as máximas não subam tanto. É claro que teremos dias com temperaturas extremas, mas não deveremos sair muito do padrão — explica o meteorologista do Inmet, Rogério Rezende.
Pelos registros do Inmet, a média histórica aponta, no mês de janeiro, temperaturas máximas na média de 30,2° em Porto Alegre, 28,5° em Pelotas, 32,3°C em Iraí, 25,9°C em Torres, 30,4°C em Santa Maria, 26,6°C em Caxias do Sul e 32,5°C em Itaqui.
Aumento de consumo nas residências
A chegada do verão tradicionalmente eleva o consumo de energia elétrica em 20% nas residências, o que tem impacto nas contas de luz do consumidor, principalmente devido ao uso de equipamentos para amenizar o calor, como ar condicionado. Entre as dicas para reduzir o consumo, estão manter a temperatura do ar condicionado entre 21ºC e 24ºC e ajustar o chuveiro elétrico para o "modo verão".