De 21 setores da indústria nacional, 18 encerraram os três meses iniciais de 2018 com ociosidade média superior ao mesmo intervalo de 2014, último primeiro trimestre de produção ainda elevada, antes de o país mergulhar na recessão.
Os níveis de utilização de capacidade instalada (UCI) abaixo do período pré-crise na maior parte dos segmentos, a despeito dos ajustes feitos nas fábricas para tentar equilibrar a produção com a demanda, confirmam o ritmo lento de retomada do setor e a decepção dos números mais recentes, como mostraram na semana passada a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados da CNI registram que, na média, a indústria brasileira fechou o primeiro trimestre com 77,1% de uso da capacidade instalada, quatro pontos percentuais abaixo dos mesmos meses de 2014. Com o quadro de arrefecimento na retomada da atividade, nem os setores que conseguiram reduzir a ociosidade – coureiro-calçadista, têxteis e equipamentos de transporte – mostram otimismo.
O presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, classifica o momento como "péssimo":
– Está muito ruim. A demanda não reagiu absolutamente nada. O Dia das Mães é dia 13 e não há perspectiva de recuperação. Estamos no início de maio e a temperatura está perto dos 30 graus – diz Klein, acrescentando à série de incertezas que afetam a economia a demora na chegada do frio, enquanto nas lojas estão à venda as coleções de outono inverno.
Ele observa ainda que, pelos números da entidade, o setor coureiro-calçadista fechou 2017 com uso de capacidade instalada média de 75%, acima dos dois anos anteriores, mas abaixo dos 78,5% de 2014, quando a recessão começou a dar os primeiros sinais.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, também não celebra a posição privilegiada do setor entre os únicos três que diminuiu a ociosidade. Ele observa que, depois de crescer 5% ano passado, o segmento passa por nítida desaceleração. Em 12 meses, o avanço foi de 5,5% em janeiro. Caiu para 5,4% em fevereiro e 4,6% em março.
– A despeito da inflação baixa, o consumidor não está indo com força às compras. O varejo neste primeiro trimestre foi morno – lamenta Pimentel, também à espera de temperaturas mais baixas para melhorar as vendas.
O economista Marcelo Azevedo, da CNI, avalia que setores de calçados e têxteis se saíram melhor por produzirem artigos cuja aquisição não requer tanto planejamento de longo prazo ou comprometimento de renda. Ao mesmo tempo, as exportações desses segmentos ajudaram. No caso de equipamentos de transporte, em razão da amplitude, de aviões a bicicletas, é difícil fazer diagnóstico mais seguro. Olhando toda a indústria, o quadro passou de esperança no final do ano passado para frustração com os resultados de março. A CNI mostrou que o faturamento caiu 2,5% em relação a fevereiro, resultado atípico pelo fato de o segundo mês do ano ter três dias a menos e, ainda, o Carnaval. O IBGE detectou que a produção caiu 0,1% de fevereiro para março.
Para Azevedo, além da incerteza relacionada às eleições presidenciais, o mercado de trabalho segue fraco, o que não melhora o ânimo dos consumidores.
O aumento da ocupação, lembra o economista, ocorre principalmente pela informalidade, o que não garante à população segurança para ir às compras. Com isso, os empresários também põem o pé no freio da produção, receosos de voltar a ter estoques elevados.