O cancelamento do projeto de usina termelétrica e de terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Rio Grande fez empresários se movimentarem para tentar reverter a decisão, anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na terça-feira (3). Iniciado em 2008, o plano de construção do empreendimento estava nas mãos da Bolognesi, que o transferiu para a norte-americana New Fortress Energy na semana passada.
Conselheiro do grupo de origem gaúcha, Ricardo Pigatto comenta que o cancelamento do projeto surpreendeu os investidores. Agora, diz o executivo, a Bolognesi prepara recurso contra a medida.
Segundo Pigatto, as companhias haviam apresentado à Aneel documentos que comprovam que a New Fortress Energy teria condições de tocar o empreendimento. O investimento projetado em Rio Grande era de cerca de R$ 3 bilhões.
– A Bolognesi entrará com pedido de reconsideração. Após a publicação da decisão da Aneel, temos 10 dias para protocolar o recurso – afirma Pigatto.
Empresários da região sul do Estado também buscam apoio junto ao Piratini para tentar reverter o cancelamento do projeto. Coordenador do movimento Aliança Rio Grande e presidente da Câmara de Comércio do município, Antônio Carlos Bacchieri Duarte conta que se reuniu com o secretário-chefe da Casa Civil, Fábio Branco, para expor os prejuízos que a perda da usina e do terminal pode causar à economia local, já debilitada por conta das dificuldades do polo naval.
Estimativas de investidores apontam que o projeto poderia gerar 2,4 mil empregos diretos e até 5 mil indiretos. Depois da implantação definitiva, poderiam ser criadas 150 vagas diretas para a manutenção do empreendimento.
– A obra é muito importante para a Região Sul. Pode gerar empregos de qualidade. Temos expectativa de que a decisão possa ser revista – relata Duarte.
A termelétrica teria capacidade para gerar 1,2 gigawatt, o equivalente a 5% da usina de Itaipu. O secretário estadual de Minas e Energia, Artur Lemos Júnior, sublinha que, além de o Estado perder investimento, a decisão da Aneel pode dificultar a diversificação da matriz energética local, já que o projeto contemplava o terminal de gás natural.
– Acreditávamos que a inclusão do grupo americano seria suficiente para a agência aceitar o projeto. A secretaria trabalha para diversificar a matriz energética de gás natural. Hoje, recebemos apenas da Bolívia – comenta Lemos Júnior.
Proprietário da desenvolvedora de negócios Gas Porto, Marco Tavares, que ajudou a conceber o projeto da New Fortress Energy, menciona que o terminal de GNL seria uma opção para o Rio Grande do Sul despertar interesse de outros grupos privados.
– É um aspecto decisivo para o qual as indústrias olham antes de se instalarem em um Estado. As empresas precisam de gás. O projeto colocaria o Estado em outro patamar – aponta Tavares.
Em sua decisão, a Aneel afirmou que "não foi comprovada evolução na estruturação do negócio". Segundo a agência, também havia "baixa expectativa" de que os investidores conseguissem apresentar licenciamentos e contratos exigidos para a viabilização do projeto.
Após a decisão da Aneel, a Bolognesi divulgou uma nota na qual afirma que a medida "afronta o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e do país".
Veja, na íntegra, o comunicado da empresa:
"A Bolognesi Energia avaliou como absurda a decisão da Aneel com relação à Termelétrica Rio Grande, que desconsiderou a existência de um investidor habilitado e totalmente preparado para cumprir tempestivamente todas as exigências do órgão regulador. O investidor já manifestou à Aneel seu firme compromisso de aportar os recursos necessários no projeto localizado em Rio Grande (RS). Dada à flagrante ilegalidade do ato, a Bolognesi Energia certamente apresentará, assim que notificada pela agência reguladora, o recurso cabível, já que a atual decisão representa uma afronta ao desenvolvimento do estado do Rio Grande do Sul e do país."