O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, afirma que a decisão do governo de privatizar a estatal não muda o plano de reestruturação em curso na companhia, especialmente em relação à venda de ativos. Ele cita o acúmulo de dívidas e gastos com pessoal para defender a privatização da empresa.
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Há um ano no comando de uma das maiores empresas de energia elétrica da América Latina, Júnior diz que a medida é uma prioridade para reduzir a dívida líquida da estatal, de R$ 23 bilhões. Para ele, a decisão de privatizar a Eletrobras é o reconhecimento de que o Brasil tem uma grande companhia, mas que hoje não tem condições de competir com as concorrentes estrangeiras.
A seguir trechos da entrevista:
A Eletrobras vinha conduzindo um plano de venda de ativos. Isso continua?
Sim. Essa medida faz parte da reestruturação da empresa para a qual fui contratado. Hoje temos uma dívida líquida de R$ 23 bilhões. O plano vai continuar exatamente igual a antes, temos metas, temos prazos e estamos seguindo todos eles.
No caso das SPEs, isso não atrapalha a privatização?
Se eu pedir um empréstimo hoje, só me cobram caro. Uma empresa muito alavancada (que pede muitos empréstimos) não consegue ter vantagem competitiva para se expandir porque o mercado financeiro percebe, coloca um risco maior (aumenta os juros) e cobra mais caro, ou aumenta o prazo, ou as duas coisas. Não existe nenhum negócio na nossa área que tenha essa rentabilidade. É uma prioridade vender essas participações. É um passo para trás e dois para frente. Ao mesmo tempo em que estou fazendo essas vendas estou concluindo obras, que vão adicionar valor à empresa.
Que obras serão concluídas?
Estamos concluindo as usinas de Sinop e São Manoel e uma linha de transmissão de Belo Monte. Para ter ideia, em 30 de junho, a empresa tinha 47 mil megawatts (MW) instalados. Vamos vender nesse conjunto de SPEs algo próximo a 1 mil megawatts, que são participações minoritárias. E vamos concluir 3,5 mil MW até o fim do ano que vem. É um passo atrás e dois ou três a frente. Por isso temos de fazer as reestruturações.
A privatização é para quando?
Não há ainda essa decisão. O que temos é uma decisão do poder concedente que reconhece que vamos melhorar a companhia e, ainda assim, continuaremos com as amarras das estatais, que é o grande problema dela. Hoje, nem todos os fornecedores querem participar das disputas e quem participa nem sempre gosta do resultado e pode entrar na Justiça para reivindicar alguma coisa. Temos uma empresa de grande porte que, num momento de economia aberta, não consegue competir com as demais. O objetivo é eliminar as restrições para que ela possa competir. E, nesse processo, o governo vai se beneficiar.
O senhor participou da decisão?
Todos os meses tenho uma interlocução com o ministro (de Minas e Energia) dando andamento ao programa de reestruturação. Nesse período tenho colocado as dificuldades que a empresa tem. E sempre aparece isso (a questão da privatização).
O que foi possível fazer nesse tempo à frente da empresa?
Fui chamado para conduzir um processo de recuperação da Eletrobras. Quando comecei, ela valia R$ 8 bilhões (na terça-feira, estava em R$ 28 bilhões) e tinha um conjunto de pendências para resolver. Trocamos 70% dos administradores de todas as empresas. Isso inclui o presidente, conselheiros e diretores. Todas elas tiveram troca de presidentes. A reestruturação na área gerencial foi reduzida de 2,2 mil posições para 1,5 mil. Também adotamos a implementação de um sistema único de gestão (ERT) para o grupo Eletrobras inteiro e um centro de serviços compartilhados para ter maior eficiência corporativa. A Eletrobras tinha mais de 23 mil funcionários, agora tem 17 mil.