O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, considerou, nesta terça-feira, que houve avanço no combate à inflação no país e citou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estava em 11% em um pico recente e deve fechar o ano "em 4%, 4,5%".
– Isso está permitindo uma flexibilização monetária, talvez não da forma que pensávamos – afirmou, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Esse processo de flexibilização monetária, acrescentou Goldfajn, abriria espaço para se discutir com mais aprofundamento outras questões, como o spread bancário.
– Isso que se torna mais fácil quando a taxa básica começa a recuar – completou.
Leia mais
Com inflação mais baixa, mercado reduz projeção para a taxa de juro
Produção da indústria tem leve alta em fevereiro, aponta IBGE
Venda de veículos novos cresce pela primeira vez em mais de dois anos
Ilan Goldfajn reafirmou a perspectiva de que o juro real da economia brasileira deve continuar em tendência de queda. Para isso, o banqueiro central defende a continuidade da agenda de reformas.
– Hoje, quando comparamos com a inflação projetada em 12 meses, o juro real caiu para 5%. Entendemos e queremos avançar mais – disse.
Ainda sobre o custo do crédito, o presidente do BC defendeu que a adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP) – em substituição à Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP) – também ajudará a economia ao oferecer mais previsibilidade e segurança.
– Estamos convencido de que isso vai levar à redução da taxa estrutural. Portanto, a própria TLP deve ter trajetória positiva ao longo do tempo – disse. – A TLP terá uma transição lenta e há espaço para fazer reformas ao longo do tempo – completou.
Estabilização
O presidente do BC repetiu que já existem sinais de estabilização na economia brasileira, e citou não apenas a volta da geração de empregos, como também a melhora da produção industrial.
– A situação ainda não é a que vamos ter daqui a um ou dois anos. Mas há sinais de estabilidade e de que o pior pode ter ficado para trás – afirmou. – Há projeções de que o ultimo trimestre de 2017 crescerá 2,7% em relação ao fim de 2016. E a previsão de crescimento é maior para 2018 – completou.
Inadimplência
Questionado pelos senadores sobre as altas taxas de juros e spreads cobrados pelos bancos no Brasil apesar da queda na Selic, o presidente do Banco Central alegou que não há uma única razão, mas a soma de vários motivos. Ele citou que o Sistema Financeiro Nacional tem inadimplência maior e taxa de recuperação menor que o verificado o resto do mundo, além de impostos e exigências de depósitos compulsórios mais altos. Goldfajn admitiu que é preciso também "trabalhar a questão da concorrência" no mercado bancário.
O presidente da autoridade monetária citou que os calotes a bancos no ano passado causaram um prejuízo de R$ 125 bilhões. Ainda assim, as instituições registraram um lucro de R$ 80 bilhões em 2016.
– Ou seja, o bom pagador paga taxas maiores para compensar os maus pagadores. Temos que defender os bons pagadores – avaliou.
Segundo ele, quando existem garantias as taxas de juros podem ser muito menores. Por isso, ele citou instrumentos como Letra Imobiliária Garantida (LIG), que está em audiência pública e pode melhorar o financiamento de longo prazo.
– O cadastro positivo também é um instrumento nesse sentido, mas hoje é uma lista incompleta. Por isso propomos que a entrada no cadastro seja automática – completou.
Ele elencou ainda a ação do BC em "fazer uma limpa" nos compulsórios, mas admitiu que ser difícil reduzir os impostos para o setor em um contexto de ajuste fiscal.
Por fim, reconheceu ser preciso incentivar que os grandes bancos concorram entre si, e com os pequenos e médios, inclusive com as cooperativas de crédito.
– Existem muitos bancos pequenos e médios e temos que dar condições para que eles concorram. Segmentamos os bancos em cinco camadas e, quanto mais complexo for o banco, mais exigências e regulação haverá. A única coisa que não pode é aumentar o risco do sistema – afirmou, citando que iniciativa também está em consulta pública.
O presidente do BC criticou ainda o fato de o Brasil ser o único país do mundo que depende de decreto presidencial para autorizar entrada e saída de bancos estrangeiros do mercado nacional.
– Podemos facilitar isso, passando essa atribuição para o Banco Central. Quem quiser vir para o nosso sistema poderá vir e será bem vindo – afirmou.
Ele relatou que apesar de bancos de países avançados estarem saindo do Brasil, há instituições de países emergentes que entram.
– Com a economia se recuperando e o risco caindo, isso vai incentivar mais bancos a entrarem no Brasil. Claro que há um tempo de defasagem, mas a tendência é por aí – concluiu.
Câmbio
Ilan Goldfajn disse ainda que a autoridade monetária permite a livre tendência do mercado de câmbio, mas isso não impede a instituição de realizar uma drástica redução do estoque de contratos de swap cambial. Ao todo, disse, a estratégia teve efeito equivalente à compra, pelo BC, de US$ 90 bilhões do mercado.
– O estoque de swap caiu de US$ 108 bilhões para US$ 18 bilhões no fim de março. Isso significa que o BC acabou comprando esses US$ 90 bilhões de diferença. Deixamos a tendência do sistema funcionar, mas estamos reduzindo o estoque de swap, o que significa comprar dólar ao longo do tempo – afirmou.
Ele explicou aos senadores que o câmbio no Brasil tem oscilado conforme "variáveis fundamentais". O presidente do BC lembrou que o real se desvalorizou durante a crise recente, mas tem se valorizado conforme a dissipação do risco Brasil. Mais recentemente, o real voltou a se valorizar alinhado com a alta do preço das commodities.
– O câmbio reflete essas variáveis fundamentais – disse. – Mas é claro que taxa de câmbio não agrada sempre a todos.
O presidente do BC citou ainda que a volatilidade implícita do mercado de câmbio no Brasil dos últimos meses tem sido uma das menores da história.
*Estadão Conteúdo