Um exemplo de como a indústria naval brasileira pode melhorar a eficiência para sobreviver vem de Pernambuco. Comandado pelo gaúcho Harro Burmann, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) conseguiu um salto de produtividade, dando atenção especial a gestão e processos, incorporando conceitos de fábricas de automóveis.
Burmann conta que, nos primeiros seis anos, o EAS fez apenas três navios. Desde 2014, foram seis em três anos e a meta é chegar a 12 embarcações, encomendadas pela Transpetro, em um horizonte de seis anos.
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Antes, para processar cada tonelada de aço, eram necessários 300 horas/homem. O indicador de produtividade da mão de obra chegou a 84, mas ainda longe do que consegue a Coreia do Sul, com 25 horas/homem. A maior produtividade refletiu no número de funcionários. O quadro, de 7 mil pessoas, foi reduzido para 2,4 mil, mas agora volta a crescer. Uma das medidas tomadas foi aumentar a frequência das checagens do avanço físico da produção, para detectar problemas e atrasos com maior agilidade, e corrigi-los.
– Essa checagem era semanal. Na indústria automotiva, se faz de hora em hora. Estamos fazendo a cada duas horas – conta, citando apenas uma das frentes atacadas.
Mesmo empolgado com os resultados, Burmann admite que é pouco para a indústria naval não afundar. Há gargalos que escapam à gestão interna, como logística brasileira deficiente e custos de matéria-prima. A descontinuidade de um setor que já foi pujante e praticamente desapareceu se soma às barreiras à competitividade. Outro fator crucial é a garantia de demanda futura da Petrobras, hoje uma incógnita.
Não bastasse todos esses obstáculos, há nó financeiro. Os aportes para a construção dos estaleiros foram pesados, mas a falta de pedidos gera dúvida em relação ao faturamento no futuro. E, mesmo quem tem receita hoje, não consegue pagar os empréstimos tomados para fazer os investimentos.