Problemas na fabricação do leite e do queijo, dúvida sobre a qualidade da água, excesso de agrotóxicos em hortifrútis. Não bastasse isso, agora descobrem-se problemas na carne. A questão gera dúvidas sobre a confiabilidade dos alimentos que consumimos todos os dias.
Como ter certeza de que o produto que chega a nossa mesa é de qualidade? Especialistas em segurança alimentar ouvidos por ZH apontam que não há como assegurar resposta a essa pergunta.
– A gente não pode dizer que está cem por cento seguro sobre nada do que comeu hoje. Nem com a água temos esta certeza. Não temos garantia de nada – afirma o engenheiro químico e professor de toxicologia de alimentos da PUCRS, Claudio Luis Frankemberg.
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Ele ressalta que fraudes e alteração em alimentos sempre ocorreram, mas que a partir de 2013, quando foi deflagrada a primeira operação envolvendo problemas na produção de leite, houve um estopim importante que preocupou população. Dois fatores, segundo ele, abrem portas para o problema: os fraudadores, querendo buscar alguma alternativa de ganhar mais, e a dificuldade de controle e fiscalização por parte dos agentes públicos.
Ao longo do tempo, as fraudes ficaram mais sofisticadas e mais difíceis de serem detectadas na leitura do professor doutor de microbiologia de alimentos da UFRGS, Eduardo César Tondo. No passado, a fraude era feita pelo produtor sem recursos e sem conhecimento, que precisava ganhar mais para sustentar a família. Hoje, existe conivência de profissionais que entendem da produção de alimentos e que estão em grandes e pequenas empresas.
Somada à fiscalização pífia, a coordenadora do Centro de Apoio e Defesa do Consumidor do Ministério Público Estadual, promotora de Justiça Caroline Vaz, acredita que a falta orientação técnica para o produtor também agrava o problema:
– Nos quadros públicos faltam pessoas preparadas para orientação dos produtores para fazer essa fiscalização permanente que a lei determina.
Para o titular da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor, Saúde Pública e Propriedade Imaterial (Decon), delegado Rafael Liedtke, a legislação que prevê a punição para este crime não inibe novas fraudes. Pelo contrário, acaba ensejando sensação de impunidade:
– Infelizmente, no Brasil, as pessoas não ficam presas. A pena máxima é de cinco anos de detenção e, normalmente, se responde ao processo em liberdade.
Atenção, consumidor!
Especialistas sugerem nova postura do consumidor ao ir supermercado. Veja algumas dicas
1) Não existe milagre. Se na mesma cidade um corte de carne igual custa 50% mais barato em um estabelecimento do que no outro, desconfie da procedência.
2) Não dá para comprar pela beleza e pelo preço do produto. Avalie condições de armazenamento e higiene das prateleiras. Leia o rótulo e verifique sempre a validade.
3) Principalmente nos mercados de bairro, que são os que costumam ter menos fiscalização, pergunte a procedência da carne. Se vem embalada, verifique o CNPJ do abatedouro.
4) Não compre mercadorias no meio da rua e na beira da estrada. Produtos coloniais e artesanais, se não são bem armazenados, oferecem perigo.
5) Ao identificar problemas em um produto, comunique o supermercado e a empresa. Dependendo da gravidade, acione a Vigilância Sanitária da sua cidade. A denúncia do consumidor se faz cada vez mais importante.