A especulação sobre a venda do Banrisul fez as ações do banco subirem 22,5% desde quinta-feira. Na sexta-feira, os papéis fecharam em alta de 6,59%. Na noite de quinta-feira, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a privatização do Banrisul estará na mesa de negociação do socorro financeiro do governo federal ao Estado, que deve incluir a suspensão do pagamento da dívida com a União por três anos. Segundo Meirelles, o Planalto não irá impor a venda do banco como condição de auxílio, mas a sua federalização ou privatização poderia ampliar as vantagens do acordo.
Na quinta-feira, as ações do Banrisul subiram mais de 14%, o que levou a Bolsa de São Paulo (Bovespa) a cobrar explicações ao banco no dia seguinte. Em comunicado, a instituição afirmou não ter identificado "nenhuma informação que tivesse partido do banco ou mesmo de seu controlador, o Estado do Rio Grande do Sul, que justificasse tal movimentação". No documento, o Banrisul avalia que essa situação ocorreu por causa de reportagem do jornal Valor Econômico, na qual destacava a possibilidade de venda do banco.
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Criado há quase 90 anos após reivindicação de pecuaristas, o Banrisul é considerado por governo estadual e associações de funcionários essencial para o fomento da economia gaúcha. Esse é um dos motivos que leva o Palácio Piratini – maior acionista da instituição – a não cogitar a hipótese de privatização ou federalização.
No entanto, há quem julgue não ser o papel do Estado a atuação no segmento financeiro.
Na sexta-feira, o secretário-geral de Governo, Carlos Búrigo, assegurou que o Piratini descarta a possibilidade de se desfazer do banco.
– Além de ser competitivo e de dar lucro, o Banrisul tem a tradição de atender servidores públicos e está presente em todas cidades, inclusive nas menores, onde não existem outros bancos. É um fomentador do desenvolvimento do Estado e tem grande importância para o agronegócio – disse Búrigo.
Para o secretário-geral do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (Sindbancários), Luciano Fetzner, o Banrisul também tem um papel regulador e atua com uma visão mais social. Fetzner, que é funcionário da instituição, lembra que o banco gaúcho é o único com agências em todos os 497 municípios do Estado. Assim como o Piratini, a entidade entende que a sociedade, que precisaria ser consultada em plebiscito, não daria aval para uma eventual negociação:
– Se livrar do Banrisul seria tiro no pé. O banco é um patrimônio dos gaúchos e é fundamental para o fomento da economia, geração de empregos e políticas públicas.
Presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Rodrigo Tellechea afirmou que vê com bons olhos a possibilidade de privatização do Banrisul, pois o governo do Estado, segundo ele, teria de dar prioridade para atividades essenciais, como saúde, educação e segurança.
– A iniciativa privada tem mais capacidade técnica, tanto é que os maiores bancos são privados – argumentou Tellechea.
Os argumentos
1. A favor da privatização/federalização
A medida poderia ampliar os benefícios do plano de recuperação fiscal do Estado. Em caso de federalização, uma das possibilidades é a de que o governo poderia receber, antecipadamente, a verba do banco.
A receita da venda da instituição – uma cifra bilionária – poderia ser utilizada para pagar parte das dívidas atrasadas com fornecedores e manter salários do funcionalismo em dia.
O valor de mercado do Banrisul na Bolsa de Valores de São Paulo é de R$ 7,2 bilhões. O governo tem cerca de 57% do capital.
Dos 26 Estados e Distrito Federal, apenas cinco mantêm bancos estaduais. O Rio Grande do Sul tem outros dois bancos públicos que poderiam assumir as políticas de fomento a empresas e agronegócio (Badesul e BRDE), além das instituições privadas que atenderiam o público em geral.
2. A favor de manter banco público
Hoje, o Banrisul tem agências em todos municípios do Estado – em 87 deles é a única instituição financeira presente. Há dúvidas se, com uma eventual negociação, o novo comprador manteria todas as unidades abertas.
Eventual venda ou federalização traria incertezas para os mais de 11,2 mil funcionários (empregos diretos), que temem demissões em massa.
Apesar da quantia não ser suficiente para enfrentar a crise nas finanças públicas, o Estado, como sócio majoritário do Banrisul, recebe dividendos do banco. No último ano, foram cerca de R$ 140 milhões.
A marca Banrisul é um dos patrimônios simbólicos dos gaúchos. Com uma possível venda ou federalização, é provável que o nome desapareça, como aconteceu com o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e o Banco do Estado de São Paulo (Banespa).