O receio de demissão em massa no sul do RS se confirmou. Na manhã desta segunda-feira, a Engevix Construções Oceânicas (Ecovix) confirmou que 3,2 mil funcionários foram desligados – restando apenas 500 nos dois estaleiros da empresa em Rio Grande.
Primeiro a dar a notícia, logo no início da manhã, o presidente do sindicato municipal dos metalúrgicos, Benito Gonçalves, chorou em entrevista à Rádio Gaúcha:
– Acabaram com a gente. Estão acabando com o sonho do brasileiro. A única forma que tem de ser decente é ter trabalho e pagar as contas. Agora, nem isso.
Mais tarde, em um breve comunicado, a empresa informou que fez um "acordo" com a entidade que foi aprovado nesta segunda em assembleia dos trabalhadores Disse, ainda, que "está em forte processo de reestruturação financeira e operacional e busca alternativas para retomada da sua operação no futuro". Leia a íntegra no final da reportagem.
Especulado desde o agravamento da crise na Petrobras, a perspectiva de demissão em massa ganhou força após a divulgação pelo jornal Valor Econômico de que a empresa entraria com pedido de recuperação judicial. No entanto, a Ecovix não havia confirmado a informação.
A empresa disse que negociava com a Petrobras pagamentos e a continuidade de contrato para construção de mais três cascos de plataformas no Rio Grande do Sul. Como não houve acordo, as demissões foram confirmadas. Apenas 200 trabalhadores seguiram atuando na manutenção da estrutura do estaleiro. Outros 300 continuam porque estão afastados.
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Segundo Gonçalves, na quarta-feira passada, o sindicato tinha informações de que a empresa iria demitir mil pessoas. No dia seguinte, o número evoluiu para 1,5 mil. Na sexta-feira, a empresa teria anunciado que a Petrobras resolveu rescindir o contrato e que não tinha mais o que fazer.
– Aí a gente começou a cuidar da tratativa para, pelo menos, garantir o pagamento do pessoal – afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, afirmando que a Engevix entrou com pedida de recuperação judicial.
Segundo o sindicato, as rescisões serão pagas dia 19, com dinheiro adquirido pela Ecovix da multa pela suspensão do contrato com a Petrobras. No dia 20 a empresa deve entrar com pedido de recuperação judicial.
Preocupação em progressão
Na última quinta-feira, o casco da plataforma de petróleo P-68 deixou o porto de Rio Grande, ampliando a preocupação em torno da iminência de demissões no polo naval. Na manhã de sexta, mais de 3 mil funcionários decidiram cruzar os braços, exigindo uma explicação formal sobre a real situação financeira da empresa.
A Ecovix é um braço de construção naval da empreiteira Engevix, investigada na Operação Lava-Jato e que teve um dos sócios preso preventivamente. A origem da empresa está relacionada à encomenda dos oito cascos para plataformas de petróleo pela Petrobras. O contrato somava US$ 3,5 bilhões e previa a entrega das unidades até este ano.
Trata-se da empresa com o maior volume de trabalho no polo naval de Rio Grande, com cerca de 3,7 mil funcionários dos 6 mil que atuavam em Rio Grande e São José do Norte. No entanto, a Ecovix já chegou a contar com 12 mil trabalhadores. Somente no último mês, segundo o sindicato, houve em torno de 800 demissões.
O complexo de estaleiros ainda tem com a Petrobras o contrato para a construção de dois cascos que nem começaram a ser produzidos e soma uma dívida de R$ 6 bilhões com a petroleira, fornecedores e bancos.
Leia a íntegra da nota divulgada pela Ecovix:
A Ecovix confirma o acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do Rio Grande aprovado hoje pela Assembleia de trabalhadores. A empresa mantém todos os esforços para buscar uma solução para o estaleiro Rio Grande após a entrega no dia 8 de dezembro do navio-plataforma FPSO P-68 à Petrobras. A Ecovix está em forte processo de reestruturação financeira e operacional e busca alternativas para retomada da sua operação no futuro.