O leite vem ocupando o ingrato posto que já foi do arroz e do feijão no bolso dos brasileiros: é um dos alimentos que mais têm apresentado aumento de preço nos últimos meses. Mesmo em Estados produtores, como o Rio Grande do Sul, o custo anda batendo recordes.
No mês passado, o litro do leite longa vida ficou 19,75% mais caro em Porto Alegre, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor da UFRGS (Iepe). O leite de caixinha, que representa 70% das vendas nas gôndolas gaúchas, tem saído por uma média de R$ 3,66.
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E pensar que, em janeiro, o mesmo produto era vendido por R$ 2,23. Desde julho do ano passado, o aumento acumulado no preço do leite é de 56%, conforme levantamento da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) – percentual muito superior ao da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da UFRGS (IPC-Iepe), que, entre julho do ano passado e junho deste ano (os dados de julho de 2016 ainda não foram divulgados), ficou em 11,76%.
Como é uma importante matéria-prima, esse aumento nos preços não vem sozinho. Quando o leite encarece, uma série de produtos acaba também pesando mais no bolso: derivados como manteiga, margarina, queijos e iogurtes surfam na mesma onda. E se muitos desses itens podem ser racionados ou substituídos, a tarefa não é tão fácil com o leite. Outras fontes de cálcio, como leite vegetal, leite de soja e vegetais escuros, ou são ainda mais caros, ou não contêm, em pequenas doses, a mesma quantidade de nutrientes.
A boa notícia é que, após uma série de aumentos de custo, pode ser que o preço do longa vida comece a cair nesta semana. Agosto é o mês em que a produção volta a crescer, após a entressafra que começa em abril. O presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, estima uma queda de 10% no preço.
– O consumidor logo vai poder ver leite em promoção. A redução no preço deve ser maior nestas primeiras semanas, mas depois deve manter uma queda média de 5%, se o clima contribuir.
Conforme Longo, o leite, apesar de mais caro, não apresentou grande queda nas vendas porque é um item essencial em qualquer carrinho de compras. Mas outros produtos, como cosméticos, acabam deixados de lado quando o consumidor passa no supermercado e pesa o quanto pode gastar.
Lembrando que a cada ano o preço do leite costuma aumentar entre abril e agosto, o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat) não é tão otimista quanto à previsão de queda nas próximas semanas. Ele explica que, mesmo que a oferta aumente, como se espera, a produção brasileira de leite recuou muito. A aquisição de leite cru feita pelos laticínios foi de 5,86 bilhões de litros entre janeiro e março – 6,8% menor em relação ao quarto trimestre do ano passado, e 4,5% abaixo da registrada no primeiro trimestre de 2015.
A explicação para o encarecimento do leite e de seus derivados passa por clima desfavorável e aumento de custo da ração animal, que têm reflexo direto na oferta.
– O fator climático prejudicou a produção. Há 20 anos não se via uma queda assim. A tendência é de queda nos preços, sim, mas não em ritmo tão acelerado quanto se viu em anos anteriores – avalia Alexandre Guerra, do Sindilat.
Mesmo pagando quase R$ 4 pelo litro de leite, o consumidor gaúcho não é tão afetado pelo problema quanto os moradores de Mato Grosso, por exemplo, onde o litro do longa vida chega a R$ 6,30, segundo o Sindilat-MT, e o quilo da moçarela, a quase R$ 50. Mais caro do que o quilo do filé mignon e da picanha naquele Estado, que, em julho, custavam em média R$ 36.