É mais embaixo o fundo do poço da economia brasileira. Com a queda de 1,7% do PIB no intervalo entre julho e setembro, o país chegou ao terceiro trimestre consecutivo de retração e tende a engatar uma sequencia ainda maior de resultados negativos. Sem indicadores que mostrem reação na atividade, o período entre outubro e dezembro confirmará a persistência da recessão atravessada pelo Brasil, avaliam economistas. A magnitude da contração, porém, deve ser menor.
A Tendências Consultoria Integrada estima que o PIB do quarto trimestre terá uma queda de 0,8%. Para a Rosenberg Associados, a retração prevista é de 0,5%, com chance de ser ainda maior.
- Em termos de dinâmica, não há muita diferença em relação ao terceiro trimestre. Indústria, serviços, consumo das famílias e investimentos continuarão caindo. O mercado de trabalho passa por um forte ajuste e o crédito segue restrito. A confiança de todos os agentes da economia permanece deprimida - diz Rafel Bacciotti, economista da Tendências Consultoria Integrada.
PIB cai 1,9% e Brasil entra em recessão técnica
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Entre os componentes que integram o cálculo do PIB, um dos poucos que deve apresentar resultado positivo é o setor externo, ajudado pelo câmbio.
- O setor externo pode arrefecer a queda do PIB, mas mais pela queda das importações do que pelo crescimento das exportações - avalia Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.
Em relação a 2016, as projeções também passam longe de qualquer otimismo. Para a Tendências, todos os trimestres do próximo ano serão no vermelho. As projeções da Rosenberg indicam alguma chance de números levemente positivos no segundo semestre
- Esperamos mais quedas (do PIB) na primeira metade do ano e estabilidade ou até alguma recuperação no segundo semestre - diz Thaís.
A reversão do cenário, avaliam os economistas, obedecerá a evolução do clima político em Brasília, contaminado pelos reflexos da Operação Lava-Jato e a fragilidade do governo federal nas negociações com o Congresso, o que dificulta e atrasa a aprovação de medidas relacionadas ao ajuste fiscal. Para Bacciotti, diminuir a tensão na capital federal seria essencial para o país começar a sair do espiral recessivo.
- Seria um gatilho que serviria para melhorar a confiança - observa Bacciotti.
Thaís ressalta que, mesmo inexistindo clima para reformas estruturais, o país precisaria que os ânimos se acalmem em Brasília para serem construídas condições mínimas de governabilidade para a votação de projetos do ajuste fiscal. Um teste de fogo sobre capacidade de articulação do Planalto, lembra ela, será a apreciação nesta terça-feira pelo Congresso da alteração da meta fiscal para 2015. E a prisão semana passada de Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, deve tornar ainda mais árdua a tarefa.