Em dia tenso, com o dólar ensaiando nova decolagem e forte estresse político, o Banco Central bem que poderia ter sido mais claro. Foi fiel a seu idioma críptico, mas não deixou de dar seu recado no comunicado que acompanhou a única decisão possível no cenário de ''balanço de riscos'', como escreveram os diretores.
Entre a recessão que pega e a inflação que come, a decisão foi se fazer de estátua e de esfinge a ser decifrada. O trecho que menciona a manutenção do atual nível de 14,75% ''por período suficientemente prolongado'' tenta convencer de que não há necessidade de novas altas.
Isso no dia em que o dragão mostrou os dentes: o IPCA-15, espécie de prévia do índice ''oficial'', saiu de 0,39% em setembro para 0,66% em outubro. Ainda esticou o comentário para acrescentar que a inflação vai convergir para a meta ''no horizonte relevante da política monetária''.
Quis dizer, sem explicitar, que não vai mais tentar baixar a inflação para 4,5% até o final de 2016. A ambição passa a ser atingir o centro da meta só em 2017. Para manter a intenção, precisaria elevar a taxa, aprofundando a recessão. E, para não voltar à imagem de leniente com a alta de preços, avisou que ''se manterá vigilante para a consecução desse objetivo''.