Aberto antes da iniciativa do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de acenar com o uso das reservas para normalizar o mercado de câmbio, o debate sobre a compra de dólares no mercado à vista pegou fogo. A posição de cada um depende da escola econômica.Os ortodoxos, inquietos antes de tudo com o valor da moeda, preferem a ameaça à ação. Os heterodoxos, mais preocupados com a retomada do crescimento, não veem nada de extraordinário em desembolsar parte dos US$ 370,5 bilhões para evitar mais travas à economia.
Nesta sexta-feira, pelo segundo dia seguido, o mercado de câmbio murchou as orelhas diante do "grito" de Tombini. Mas todos sabem que o jogo não é verbal. Um recuo tático pode ser seguido de um desafio: o BC vai mesmo responder fogo com fogo? Egresso do mercado financeiro, o presidente da Federasul, Ricardo Russowsky, está no primeiro grupo. Para ele, as reservas são como um seguro de vida: existem, custam caro, mas é melhor não usar. O risco, pondera, é usar as reservas, não resolver as causas da desconfiança e ampliar o risco.
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Essa não é uma posição unânime. Antonio Correa de Lacerda, especialista em economia internacional, pondera que esse é o papel das reservas: vender em um momento, resgatar em outro. Concorda, porém, que não é recomendável reduzir demais a munição, como ocorreu em duas situações recentes, em 1999 e 2002, quando o volume era baixo - US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões. Isso correponde a menos de um décimo do valor atual. Quando um país não tem ou esgota suas reservas, só tem uma saída: buscar ajuda externa, geralmente no Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa é uma hipótese, hoje, totalmente fora de cenário, exatamente porque o papel do Fundo é prover de liquidez internacional países que não dispõem desse ativo.
Richard Rytenband, especialista em gestão financeira e mercado de capitais, lembra que o momento não é de fuga de capitais. E pondera que, na disparada de abril a outubro de 2002, o dólar saiu de R$ 2,25 para R$ 4 com fluxo cambial negativo (saída superior à entrada) de US$ 10 bilhões. De setembro de 2014 a setembro de 2015, o fluxo cambial foi positivo em cerca de US$ 3 bilhões.
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