Acorrentado ao portão da QGI (ex-Quip), em Rio Grande, desde a madrugada de terça-feira, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Rio Grande, Benito de Oliveira Gonçalves, garante que só sai de lá quando o futuro da montagem das plataformas P-75 e P-77 for definido.
Em tese, o dia da definição seria esta sexta-feira, para quando está previsto o anúncio do plano de negócios da Petrobras 2015-2019. A cada ano, a estatal atualiza prioridade, valores e cronograma dos projetos. Até a noite de quinta-feira, não havia confirmação de que o plano sairia hoje, mas analistas já preveem cortes entre 30% e 40% do total previsto até o ano passado.
As plataformas que seriam montadas pela QGI, sobre cascos de navios adaptados, são essenciais para que a Petrobras cumpra seus objetivos de elevar a produção e, consequentemente, a receita, nesse período de crise financeira da estatal. Ou seja, as duas serão feitas. O que o sindicato, a comunidade de Rio Grande e os gaúchos querem saber é se isso vai ocorrer no Brasil ou, como os módulos previstos para o polo de Jacuí, serão absorvidos pela China ou outro país asiático, onde custam menos.
Benito garante que não vai arredar pé antes de saber qual o futuro de 10 mil trabalhadores desempregados na cidade. Relata ter ouvido da presidente, Dilma Rousseff, a garantia de que não havia risco para o futuro do polo naval de Rio Grande. Agora, no entanto, está diante da ameaça de a QGI encerrar atividades. A outra grande empresa instalada na cidade, a Ecovix, estaria "à beira do caos", com empregados demitidos sem receber rescisão, conforme seu relato.
- Não acredito que a presidente queria levar para a China os milhares de empregos gerados aqui com a montagem das plataformas, mas não entendo o que está faltando. A diferença que está em discussão equivale a 1,5 dia de extração de petróleo no Brasil - diz Benito.
Depois de uma retomada de negociações que durou mais de uma semana, a Petrobras teria retirado sua proposta da mesa. A QGI, em represália, agora se negaria a manter as tratativas com o comitê formado para tentar resolver o impasse. Sob pressão, funcionários da estatal querem evitar ao máximo o risco de aceitar aditivos que possam vir a ser questionados no Tribunal de Contas da União. Se o plano de negócios for divulgado hoje, trará nas entrelinhas o futuro da origem da indústria naval no Estado.