Após um ano de longas discussões, o grupo que trabalha para ampliar a oferta de gás natural para a Região Sul finalizou na quinta-feira, em Brasília, um relatório denso sobre as alternativas de investimentos ao setor. O que dá base ao documento é um novo levantamento técnico que indica alternativas (veja ao lado) para aumentar o fornecimento na região, hoje limitado em 6 milhões de metros cúbicos/dia, o que prejudica novos investimentos de empresas em Santa Catarina.
Segundo o presidente da SCGás, Cósme Polêse, o relatório, que em breve estará aberto no site do Ministério das Minas e Energia, foi elaborado com a participação das três federações industriais - Fiesc, Fiergs e Fiep -, as distribuidoras SCGás, Congás (RS) e Compagás, o ministério, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a TBG, proprietária do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol).
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Desenvolvido pelas empresas de consultoria Chemtech (da Siemens), Gas Energy e Vortex a pedido das federações, o estudo projeta uma expansão de 20 milhões de metros cúbicos/dia até 2020. O desafio, agora, é transformar as melhores alternativas em realidade o mais breve possível, ampliando a oferta de uma matriz energética barata que permite a expansão de investimentos no Estado.
Atualmente, todo o gás natural que chega ao Sul do país vem da Bolívia, passando pelo gasoduto com mais de 3 mil quilômetros, que é controlado pela TBG, cuja acionista principal é a Gaspetro (da Petrobras, com 51% do capital). O problema é que o gasoduto, em atividade desde 1999, já está com a capacidade esgotada. Enquanto no ano passado o país elevou o uso em 11,6%, SC não observa mudanças significativas nos números desde 2011.
- Hoje, não há como fornecer para uma empresa nova - lamenta Polêse.
A demanda projetada para a região foi levantada por pesquisas de mercado, levando em conta o potencial de consumo de indústrias tradicionais.
- Sem a ampliação do sistema, o crescimento das maiores indústrias tem sido bastante prejudicado - lamenta Otmar José Müller, presidente da Câmara de Energia da Fiesc.
Entrevista
Cósme Polêse, presidente da SCGás
Como estão os esforços para ampliar a oferta de gás?
O grupo que trata desse tema para o Sul concluiu um relatório denso, sistematizado, que mostra as alternativas de investimentos em gás natural. Eu considero necessárias várias soluções: repotenciação do Gasbol, terminais de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL), swap e, para um período mais distante, a transformação do carvão mineral em gás. A primeira fase de repotenciação requer investimento de meio bilhão de reais e coloca um milhão de metros cúbicos a mais na ponta sul, em Porto Alegre.
Podemos ter um terminal de regaseificação e uma térmica também em SC?
Sim, eu defendo essa ideia. Temos uma brecha para instalar uma usina térmica. Se o gasoduto entre Rio Grande e Porto Alegre não for construído, podemos trazer o insumo por cabotagem do Rio Grande pra cá. Acredito que SC precisa de um terminal de GNL. Se tivéssemos capacidade hoje, alguém poderia ir à Aneel e se inscrever para investir numa térmica e numa fábrica de fertilizantes a partir do gás natural.
O terminal e a usina poderiam ser em Imbituba e a produção de fertilizantes em Lages, próxima do produtor rural. Outra opção seria fazer duas usinas menores.
E a proposta de swap?
Swap é a troca de gás. Podemos comprar de qualquer região do país. Um exemplo: chega um navio de GNL no Rio de Janeiro, a SCGás pode contratar um volume e tirar no gasoduto em SC.