Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado nesta quarta-feira mostra o que os brasileiros já vem observando. O estudo aponta que o Brasil pode ter em 2015 a pior desaceleração da economia em mais de duas décadas. Mesmo com a atividade enfraquecida, os economistas recomendam o governo a seguir em frente com o ajuste fiscal e monetário.
Conforme o relatório Perspectiva Econômica Regional: Hemisfério Ocidental, o Brasil passa pela "desaceleração mais grave em mais de duas décadas, mas terá de perseverar com os recentes esforços para conter o aumento da dívida pública e repor a confiança no quadro da política macroeconômica".
Na reunião de primavera (no Hemisfério Norte) do Fundo, que terminou no último dia 19 em Washington, a diretora-gerente da instituição, Christine Lagarde, elogiou o ajuste na economia e ainda recomendou reformas estruturais no Brasil.
A previsão de economistas do FMI é que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil vai encolher 1% em 2015, um dos piores desempenhos entre as principais economias mundiais. Para 2016, a expectativa é de uma recuperação moderada, com o PIB crescendo 1%.
O aperto na política fiscal que vem sendo conduzido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ajuda a enfraquecer a atividade no curto prazo, mas é "criticamente necessário" para conter a piora da dívida pública e restaurar a confiança dos agentes. "As autoridades agora têm pouca escolha a não ser apertar a política fiscal em meio a uma recessão", aponta o documento.
_ O ajuste em curso no Brasil é fundamental para evitar a piora da dívida e restaurar a confiança na economia brasileira _ afirma o diretor do departamento para o Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner.
A mesma análise vale para a alta de juro promovida pelo Banco Central (BC) para conter a inflação. O aperto na política monetária desde 2014 é adequado, afirma o documento do FMI. Mesmo com a elevação da taxa, o BC continua enfrentando a tarefa de reforçar a credibilidade do arcabouço de política monetária, já que a inflação persiste em patamar alto, ressalta o texto.
A previsão do FMI é que o IPCA suba 8% este ano, acima dos 7,8% em um relatório divulgado pelo Fundo durante a reunião de primavera. Para 2016, a previsão é de alta de 5,4%, abaixo dos 5,9% do documento anterior.
Leia as últimas notícias de Economia
O FMI volta a afirmar que vários fatores estão contribuindo para o fraco desempenho da economia brasileira. Entre as quais, a baixa confiança dos empresários, que por isso não investem. Além disso, o escândalo de corrupção na Petrobras é outro fator, que levou a petroleira e empresas do setor a cortarem investimentos e ainda contribui para aumentar a incerteza na economia.
Pelo lado dos consumidores, o estudo do FMI ressalta que os brasileiros têm segurado os gastos, em meio à inflação alta, expectativa de piora do mercado de trabalho e com os bancos segurando o crédito. Pelo lado externo, o FMI ressalta que o fim do ciclo de preços valorizados das commodities no mercado internacional, com a desaceleração da economia da China, também contribui para esfriar a atividade no Brasil e em outros países da América Latina.
O FMI avalia que a desaceleração do Brasil e em outros países da América Latina, como o Chile, tem sido pior que o antecipado. As projeções de expansão do PIB brasileiro vêm sendo rebaixadas a cada novo documento divulgado pela instituição desde 2012.
*Estadão Conteúdo