Foi preciso passar pelas lembranças da Paixão de Cristo e do enforcamento de Tiradentes - uma espécie de penitência coletiva - para desembocar no (re)descobrimento do Brasil, data em que a Petrobras promete apreciar no conselho de administração e, em seguida, divulgar, o balanço auditado do terceiro trimestre de 2014. Se tudo correr como o planejado, será o fim de uma longa e espantosa novela, que teve capítulos de mistério, suspense, drama e revelações.
Nos capítulos finais, parece ter ocorrido a síndrome que afeta todo folhetim rocambolesco: com a aproximação do desfecho, desdobramentos foram precipitados e soluções foram costuradas às pressas para permitir algo parecido com um final feliz. Na sexta-feira, a Petrobras comunicou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que fechou um empréstimo com Banco do Brasil, Caixa e Bradesco no valor de R$ 9,5 bilhões. Dois são bancos públicos e outro foi indicado pelo ministro da Fazenda.
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Também foi anunciado acordo com banco Standard Chartered para "vender" plataformas no valor de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,1 bilhões). A operação vai entre aspas por ser conhecida como "venda com arrendamento e opção de compra", ou seja, tudo segue como está, mas uma montanha de dinheiro troca de mãos. Ou melhor, de balanço. Há algo de irregular? Não necessariamente. Tudo é bastante conveniente e mostra que está sendo arrematada a operação que pode tirar a Petrobras de seu inferno astral.
Se a Petrobras perdeu o foco dos investimentos, negligenciou controles internos e tem uma dívida que assusta qualquer gestor - R$ 261 bilhões -, também segue dona de vastas reservas de petróleo, além de um dos maiores parques de refino do mundo e uma lista incontável - dependendo do ponto de vista, excessiva - de ativos. Se o balanço apresentado 515 anos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral vai confirmar o momento de redescoberta da Petrobras, vai depender dos números apresentados. Se não parecerem espelhos e miçangas, há uma boa chance de que outros setores, como construção civil, gás, energia e petroquímica entrem no embalo.
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