A disparada do dólar assustou brasileiros nas últimas semanas. Desde o início de março, a moeda americana já subiu 13% e atingiu as maiores cotações em mais de 11 anos. Entre as razões para a escalada, estão o ritmo fraco da economia e a tensão política que cerca Brasília - agravada pelas descobertas da Operação Lava-Jato.
Mas um outro fator - que vem de fora - também tem forte impacto sobre o câmbio: a expectativa pela alta do juro nos Estados Unidos.
Nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que, assim como o nosso Banco Central, é responsável pelo controle da taxa de juro básica americana, reúne-se para discutir os rumos da sua política monetária.
Ao final do encontro, o órgão pode dar indícios de quando irá elevar as taxas - que estão perto de zero desde 2008. Abaixo, ZH te explica: afinal, porque essa mudança por lá tem tanto impacto no câmbio brasileiro.
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POR QUE O JURO DOS EUA ESTÁ TÃO BAIXO?
Entre as medidas criadas para combater a crise financeira de 2008 - que levou diversos bancos americanos à falência e levou a economia mundial à recessão-, o Fed anunciou, em dezembro daquele ano, a redução da taxa de juro básica do país para 0,25%. A principal intenção era baratear o custo de empréstimos às instituições financeiras atingidas pela crise. Com dinheiro no caixa, os bancos poderiam conceder mais financiamentos à população e estimular o consumo.
Com acesso a capital mais barato, muitos investidores resolveram aplicar recursos em economias emergentes, que, apesar do risco elevado em relação a outros países, ofereciam taxas mais altas de retorno. O Brasil foi um dos principais destinos escolhidos.
Com a maior oferta de moeda estrangeira por aqui, a cotação do dólar caiu em relação ao real - em meados de 2011, o dólar chegou a cair para abaixo de R$ 1,50.
A RECUPERAÇÃO DOS EUA
As medidas criadas pelo Federal Reserve sempre tiveram um prazo de validade, que está atrelado à recuperação da economia americana. Na medida em que o consumo ganhava força e o mercado de trabalho se aquecia, com o aumento da criação de vagas e redução da taxa de desemprego, o Fed começou a indicar que poderia começar a reduzir os estímulos.
A ALTA PREVISTA PARA JUNHO
O bom desempenho da economia dos Estados Unidos em 2014 (o PIB americano cresceu cerca de 2,5% no período), aliado à forte recuperação do mercado de trabalho e redução do desemprego, oferece a base que o Fed precisava para voltar a elevar o juro - ao menos é o que os analistas do mercado financeiro avaliam. As estimativas entre especialistas e fontes próximas ao Fed é de que a alteração, a primeira após quase sete anos, deva ocorrer em junho.
O QUE MUDA AQUI
Com a alta do juro nos Estados Unidos, deverá ocorrer no Brasil um processo inverso ao observado nos anos seguintes à crise de 2008.
A taxa de juro mais elevada lá, além de indicar confiança maior do Fed na retomada da economia dos EUA, torna mais rentáveis os títulos americanos - considerados os mais seguros do mundo. Soma-se isso ao péssimo momento político e econômico brasileiro, e a tendência é de que ocorra uma migração dos investidores estrangeiros que hoje aplicam dólares aqui para lá. Como o dólar também obedece à lei de oferta e demanda, quanto menos tem no Brasil, mais alto o preço fica.