Foi usando uma gíria do noticiário econômico que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voltou a tentar aliviar o peso da receita que prepara para servir aos brasileiros. "A gente não tem nenhum objetivo de fazer nenhum saco de maldades, ou pacotes, mas vamos ter de fazer algumas medidas." A frase mostra que o figurino apertado das finanças públicas da União para 2015 - e a suposta saia justa entre sua visão e a da presidente Dilma Rousseff - não o deixam desconfortável.
Ontem, em café da manhã com jornalistas que fazem plantão em frente ao ministério, com mais ou menos eufemismos, o ministro reiterou que
1. tributos vão subir
2. gastos serão cortados
3. aplicações financeiras poderão ter aumento de tributação
4. vai perseguir máximo efeito com mínimo impacto (leia-se investimento e emprego). ]
Levy não teme analogias populares. Ao justificar os ajustes que pretende fazer, usou a velha comparação dos gastos públicos com o orçamento doméstico, com uma pitada de atualidade: "Às vezes, em uma semana você deixa de ir na balada ou comprar um tênis, porque tem de pagar outra coisa, como um caderno. Na hora de comprar, o material escolar vem na frente".
O discurso pegou bem entre analistas e na bolsa de valores, que chegou a subir 1% durante e logo depois da fala do ministro. A reação só não se sustentou diante da virada de humor no mercado americano. Mas o dólar recuou. O que foi bem avaliado:
1. a Petrobras não será pressionada pelo governo a congelar seus preços
2. o setor de energia precisa de "realismo tarifário"
3. vai dizer em Davos que o Brasil sabe fazer mudanças na economia.
Pouco depois de o ministro falar, já surgiram informações sobre como será ressuscitada a Cide sobre os combustíveis. Com os custos da energia elétrica dando choque na inflação, a solução pode ser encolher o preço da gasolina e do diesel nas refinarias para acomodar o tributo durante a baixa na cotação do petróleo. Quando o preço do barril se recuperar, o impacto do tarifaço terá diminuído.