Não bastassem as preocupações de curto prazo com as consequências da Operação Lava-Jato na indústria naval, uma decisão anunciada na noite de segunda-feira pela Petrobras aumentou a dúvida sobre o futuro dos estaleiros em operação no Rio Grande do Sul. A estatal decidiu que 23 empresas envolvidas no escândalo - quatro com unidades no Estado - estão temporariamente impedidas de participar de novas licitações.
Embora as encomendas atuais estejam preservadas, à exceção da Iesa Óleo e Gás, que teve contrato rescindido em novembro, a medida põe em dúvida a continuidade dos estaleiros em Rio Grande controlados pela Engevix e pela Queiroz Galvão e do localizado em São José do Norte, que tem a Setal como sócia. Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas de Rio Grande e São José do Norte, Benito Gonçalves, a interrupção dos projetos seria uma "catástrofe".
- O futuro é preocupante. A indústria naval interagiu com a comunidade, e há várias empresas fazendo investimentos na região por causa do polo - diz Gonçalves, lembrando que problemas financeiros de curto prazo da Petrobras e dos estaleiros já levaram a 7 mil demissões desde novembro.
Petrobras bloqueia 23 empresas citadas como participantes de cartel na Operação Lava-Jato
Mesmo preocupado, o coordenador do comitê de óleo e gás da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Marcus Coester, entende que a decisão da Petrobras pode significar o início de um processo de reconciliação da estatal com as empreiteiras a partir de novos critérios éticos e de governança, com a possibilidade de retomada dos negócios no futuro.
- Terminar as encomendas e fechar o polo não é razoável. A Petrobras tem suas concessões e prazos para começar a produzir - lembra Coester, ressaltando que a política de conteúdo local não é exigência da estatal, mas de legislação.
Novo secretário vai buscar negociação
Entre as saídas especuladas para a retomada das relações estão um rearranjo societário nos estaleiros ou mesmo a saída de executivos envolvidos no escândalo.
Escolhido para comandar a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do governo José Ivo Sartori, o ex-prefeito de Rio Grande Fábio Branco promete tentar intermediar uma negociação.
- Não podemos correr risco de descontinuidade. Vamos buscar negociar com o governo federal e a Petrobras - afirma Branco.
Projetos sob risco
Estaleiro EBR
Sociedade entre a japonesa Toyo e a brasileira Setal. Apenas a Setal está na lista da Petrobras. O estaleiro tem contrato para construir a plataforma P-74, ao custo de R$ 1,85 bilhão. As empresas contavam com novas encomendas.
Estaleiros Rio Grande 1 e 2
Operado pela Ecovix, empresa controlada pela Engevix, também arrolada pela Petrobras. As encomendas são de sete cascos para plataformas e outros três navios-sonda, contratos que somam cerca de R$ 15 bilhões.
Estaleiro Honório Bicalho
Hoje operado pela QGI, sucessora da Quip. É controlado pela Queiroz Galvão, com participação da Iesa. As duas estão na lista da Petrobras. Tem em andamento contratos de cerca de R$ 3 bilhões para a P-75 e a P-77.
Iesa Óleo e Gás
Empresa com estaleiro construído em Charqueadas já teve contrato rescindido pela estatal devido a atraso na entrega de encomenda de módulos de plataformas orçado em US$ 800 milhões. O grupo Inepar, dono da Iesa, está em recuperação judicial.
As 23 fornecedoras suspensas pela petrolífera
Alusa, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Carioca Engenharia, Construcap, Egesa, Engevix, Fidens, Galvão Engenharia, GDK, Iesa, Jaraguá Equipamentos, Mendes Junior, MPE, OAS, Odebrecht, Promon, Queiroz Galvão, Setal, Skanska, Techint, Tomé Engenharia e UTC.