Tudo parecia caminhar para um final feliz. O mercado vibrava com a suposta escolha do ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda quando o Planalto decidiu abortar o anúncio previamente combinado. A bolsa subiu 5,02%, com as cinco maiores altas de papéis de empresas superando 10%, o dólar recuou para R$ 2,52, e os operadores eram só elogios para o perfil mais ortodoxo de Levy, como todo profissional com formação na Universidade de Chicago. Quando estava no Tesouro, o economista zelava como um falcão pela austeridade fiscal, motivo pelo qual tinha frequentes embates com a então colega de Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Ou seja, mais do que agradar ao operadores das mesas de ações e de câmbio, Levy representaria o famoso sinal de inflexão nos rumos da política econômica que até os analistas mais ponderados esperam.
Com o adiamento do anúncio, novas dúvidas se unem à montanha de incertezas que cercam a economia brasileira para os próximos anos. Pode ser só uma tensão passageira e indolor, caso na segunda ou na terça-feira os candidatos cotados sejam confirmados. Mas também há o risco de que seja visto como mais um sinal de inconsistência das escolhas do Planalto se isso não ocorrer. Mesmo ácidos críticos da atual política econômica veem na hipótese Levy um "redutor de estresse", mas advertem que a não confirmação do nome pode ser pior do que se nem tivesse sido ventilado.
- Dependendo do que ocorrer no final de semana, a abertura do mercado pode ser muito ruim - avalia João Marcus Marinho Nunes, sócio da Phynance Estratégias Quantitativas.
Mais focado no longo prazo, o economista Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Ibre-FGV, pondera que alguns dias não mudam nem o volume nem a qualidade das "enormes expectativas" que cercam a nova equipe de Dilma. Mas diz não ter dúvida de que, independentemente do indicado para a Fazenda, a formuladora da política econômica seguirá sendo a presidente, tal como foi no primeiro mandato. Especialista em risco político, Alexandre Barros lamenta que a estratégia do Planalto tenha sido "deixar todo mundo pendurado no pincel" e projeta riscos adicionais dependendo do desfecho da indicação. Ainda há dúvidas consistentes sobre o destino de Levy e do gaúcho Alexandre Tombini, atual presidente do BC. Trocas não estão descartadas.