Em uma tentativa de começar a vencer o mau humor e injetar algum ânimo na economia, o Banco Central (BC) anunciou nessa sexta-feira uma série de medidas para expandir a capacidade dos bancos de ofertar crédito. Na busca por reverter as expectativas de crescimento abaixo do 1% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, o pacote promete liberar R$ 45 bilhões para serem emprestados a consumidores e empresas.
Mesmo que persistam questionamentos sobre a eficácia das alternativas encontradas pelo governo federal, as medidas foram bem avaliadas por bancos e entidades da indústria, setor que mais sofre com o pessimismo e a marcha lenta da atividade em 2014. A mais importante prevê a liberação de R$ 30 bilhões do empréstimo compulsório, ferramenta empregada pelo BC para controlar o volume de dinheiro na economia. A expectativa é de que os recursos, antes parados no BC, se transformem em crédito para consumo e, em parte, para investimento.
Na avaliação do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, as iniciativas renovam as esperanças de vendas melhores no segundo semestre, depois de os emplacamentos na primeira metade do ano terem apresentado desempenho 7,6% inferior a 2013.
- Esta injeção de liquidez de R$ 45 bilhões ajuda o setor automotivo em financiamento direto, mas o mais importante é o efeito cascata que terá em toda a economia brasileira. Agora esperamos que quem tem a intenção consiga comprar - diz Moan, na expectativa de que as medidas surtam efeitos imediatos.
O presidente da Anfavea lembra ainda que o pacote contempla recursos adicionais para o Programa de Sustentação do Investimento. Além de automóveis, é possível esperar reação nas vendas de caminhões e ônibus.
Febraban não vê risco de inflação
Mesmo que especialistas vinculem o menor fôlego do crédito a uma postura mais restritiva das instituições financeiras, e não necessariamente à escassez de recursos para emprestar, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, saudou o pacote. As mudanças de regras têm potencial de ampliar empréstimos e melhorar as condições para segmentos específicos, como pequenas e médias empresas.
- As medidas vão permitir ao sistema financeiro expandir as operações de crédito de forma prudente e sem pressionar a demanda - avalia Portugal, referindo-se a possíveis riscos de as iniciativas levarem a um recrudescimento da inflação.
- Essas medidas não transformam a realidade do dia para a noite. São importantes para começar a romper o ciclo vicioso de previsões negativas. Cria uma agenda positiva - diz o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco.
Efeito positivo, mas há duvida sobre eficácia
Apesar de predominarem avaliações positivas sobre as iniciativas do governo federal, também existem dúvidas quanto à eficácia das medidas anunciadas ontem pelo Banco Central. Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, estímulos à ampliação do crédito disponível são bem-vindos, mas é preciso esperar a reação de bancos e consumidores.
- Liberar o dinheiro (do compulsório) não quer dizer que vai ser usado. Vai depender dos bancos quererem dar crédito e dos consumidores estarem dispostos a tomar esses recursos - diz Perfeito.
Fatores como a perda da dinâmica do mercado de trabalho e as incertezas eleitorais, entende o economista, fazem com que o consumidor não esteja tão ávido assim por crédito. Com isso, os efeitos do pacote poderiam ainda demorar a ter resultados práticos e deslancharem apenas após a definição do próximo presidente.
O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, observa que comércio e serviços tendem a ser mais beneficiados. Para a indústria, os efeitos serão "bem marginais", sustenta.
- Esse crédito pode ajudar alguns setores como linha branca, marrom e automóveis. Mas esses mesmos já foram favorecidos e, hoje, grande parte das famílias está endividada. No geral, a indústria está muito estocada - avalia Souza.
* Com agências de notícias
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