Apesar de se considerar, como brasileiro, "um otimista com o país", o ex-ministro do governo FH e atual CEO da Bunge, Pedro Parente, anda descrente com a falta de confiança estabelecida entre o setor privado e o governo. Antes de participar do lançamento do Prêmio Exportação 2014 da ADVB, em Porto Alegre, afirmou que não há diálogo suficiente para superar questões importantes ao desenvolvimento do país.
Como responsável por gerir o apagão no governo FH, acredita que o país enfrentará o mesmo problema de novo agora?
Não acompanho de perto as informações, mas leio que a probabilidade está aumentando. O próprio governo dá graduações as suas manifestações, que começaram com hipótese zero, depois baixíssima e, agora, baixa probabilidade. É uma escala que parece sugerir uma preparação de espíritos e expectativas. E estamos nos aproximando do fim do período chuvoso, ou seja, as esperanças de que possa haver acúmulo maior de recursos hídricos nos reservatórios ficam cada vez menores.
Não seria hora de o governo fazer alerta mais sério para se economizar energia?
Não vou te dar manchete, Bela!
De um lado, o governo aumenta o juro via Banco Central, para conter a inflação. Mas, de outro, a Fazenda continua gastando. Por que não há correção de rota?
A política fiscal não dá a contribuição que deveria para o BC fazer política monetária mais adequada ao crescimento que o país precisa. Assistimos uma redução, ano após ano, no resultado primário do governo, e isso faz com que a política monetária seja o último recurso para o controle da inflação. Se houvesse resultado primário maior, que permitisse ao governo menos recursos para pagar a dívida, teríamos política monetária menos apertada. O outro problema é uma tremenda dificuldade de diálogo entre o governo e o setor privado, que acaba se manifestando sobre uma redução do apetite do empresário de investir.
Como assim?
Quando as duas partes têm interesse comum, deveria haver uma capacidade de compreensão das questões. No entanto, o setor privado sente que o governo parece estar fazendo um favor de se dispor a conversar e compreender os assuntos, quando na verdade há um objetivo comum. Não é que as pessoas não conversem, no fundo é uma conversa superficial onde as questões de fato não são enfrentadas, como a tributária. Um princípio importantíssimo de qualquer negociação é que você entenda a racionalidade do outro lado porque é mais fácil fazer acordo que adicione valor aos dois lados.
O que seria tratado na mesa de diálogo que até hoje não foi?
Existe uma agenda de questões que atrapalham a economia e uma outra que é a reconstrução da confiança. Se de um lado você cria as condições favoráveis ao desenvolvimento da economia, e de outro lado você reestabelece a confiança, os investimentos vêm. Não existe investimento porque falta confiança, e falta confiança porque não existe diálogo. A responsabilidade não é de um lado, nem de outro. O diálogo entre o setor privado e o governo federal, dos dois lados, é um diálogo em que não existe uma comunicação efetiva.
Esse diálogo pode ser prejudicado com o momento eleitoral que estamos vivendo?
O ano eleitoral faz com que, naturalmente, existam expectativas sobre quem é que vai estar liderando o país após outubro. O detalhe é o seguinte: depende muito das avaliações e expectativas de quem ganha. Até pouco tempo atrás, havia uma certeza de quem ganharia. Recentemente, começou a haver certos sinais, confirmados por única pesquisa, de que pode ter quadro de disputa acirrada. E isso, para essa reconstrução, significa esperar. Mas, ganhe quem ganhar, 2015 será um ano de ajustes.