Vitor Hugo Galmarine prosperou nos últimos 10 anos. Deixou de trabalhar no almoxarifado do canteiro de obras para abrir o próprio negócio, a GAN Transportes, cujo logotipo estampa as letras iniciais dos filhos, numa homenagem amorosa a Gabriel, Amanda e Nicole. A parte desagradável é que, agora, paga quatro vezes mais impostos do que em 2003 - isso no plano pessoal, sem contabilizar os tributos da empresa.
Em 2008, Vitor criou a GAN, que presta serviços a repartições públicas de Porto Alegre disponibilizando cinco automóveis e os respectivos motoristas. Chegou a ter oito carros - modelos médios, quatro portas e com ar-condicionado -, mas reduziu a frota em função dos impostos. Somente de ISSQN, paga 2% sobre o faturamento - algo como R$ 3 mil mensais.
- Era algo ilusório, os impostos eram quase maiores que os lucros, não compensava a incomodação - conta o microempresário, 35 anos.
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A GAN proporcionou melhor renda à família. Mas, junto, vieram os gastos - e os tributos embutidos. Depois que o pai, Pedro, 70 anos, penou na fila do SUS para consultas e exames, Vitor decidiu contratar um plano de saúde, no valor de R$ 1,3 mil por mês.
Em uma década, o peso dos impostos foi 16% maior do que o da inflação
- Infelizmente, não dá para depender do SUS - diz Vitor, que fez o plano somente para os pais idosos.
As despesas regulares, como luz e água, também aumentaram. Como Vitor necessita do celular para acionar os funcionários da GAN - o aparelho é o seu escritório itinerante -, a conta telefônica saltou em relação a 2003. O mesmo ocorreu com a gasolina: atualmente consome R$ 20 por dia, ou sete vezes mais do que em 2003. Antes pilotava uma motocicleta, hoje desloca-se a bordo de um Tempra.
Outros gastos apareceram, como a TV por assinatura, adquirida no ano passado. Vitor e a mulher, Priscila, 32 anos, quase não dispõem de tempo para assistir à programação. Mas era um pedido insistente dos três filhos.
- É bem como dizem: quanto mais a gente ganha, mais gasta - deduz o microempresário.