Há 10 anos, ao se referir à cobrança de impostos sobre todos os produtos e serviços que consumia, o empresário Cláudio Fróes Peña brincou que tinha um sócio indesejado. Era um parceiro oculto, mas implacável na sua voraz onipresença: o fisco.
Atualmente, aos 75 anos, Peña percebe que a gula do sócio aumentou ao longo da década. Tenista na categoria sênior, colecionador de troféus e com jogos no Exterior, o empresário desembolsou R$ 600 por uma raquete, em 2003, destinando R$ 102 para impostos. Recentemente, pagou R$ 700 por uma nova raquete, mas se abismou ao notar que fora tributada em 50%.
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Pai de quatro filhos, cinco netos para se entreter, Peña compra raquetes quase todo ano, à medida que evoluem na tecnologia do saque. É uma necessidade para quem conquistou 30 campeonatos e vices nos últimos 10 anos. Guarda uma como reserva, as outras doa a entidades que oferecem esportes para jovens. A cada aquisição, um susto no imposto.
- Estão aumentando, sistematicamente - constata.
Em uma década, o peso dos impostos foi 16% maior do que o da inflação
De tão contrariado com as taxações, tanto na empresa quanto no orçamento doméstico, Peña virou um estudioso do assunto. Um dos vice-presidentes da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), participa da Divisão de Impostos da entidade. Cético, não acredita em reformas, menos ainda num alívio ao bolso do contribuinte.
- O governo não vai abrir mão de arrecadar. Não creio que a situação mude - avalia.
O jeito é conviver com o sócio inconveniente, torcendo para que contenha o apetite. Daqueles empresários sem ostentações, Peña relutou em ter uma Mercedes, mas acabou se concedendo o presente. Comprou o carrão no ano passado, de segunda mão, mas abismou-se ao receber o IPVA. Ou melhor, soltou um palavrão - não dos pesados -, algo incomum para ele. Valor do imposto: R$ 3.748.