No dia em que José Antonio Pérez Zembrana ganhou na loteria de Alameda, não pulou de alegria. Ficou satisfeito, obviamente. Porém, ao redor dele havia muitas pessoas de sua vila, no sul da Espanha, que também aguardavam pelo prêmio: dois meses de trabalho vendendo ingressos para a piscina municipal.
Com taxa de desemprego perto de 50% na cidade (a Espanha tem a maior taxa da Europa, 26,5%), o prefeito, Juan Lorenzo Pineda Claverías, tem usado um novo método de contratação. Uma vez por mês, sorteia pedaços de papel para decidir quem irá trabalhar. O evento é público e transmitido pela TV.
Quando Pineda foi eleito, em 2008, a crise econômica começava e uma loteria de empregos - geralmente para bicos de um mês - pareceu uma maneira de distribuir trabalho de forma justa. Tal sistema, disse, também seria um claro sinal de que a gestão não teria corrupção.
No primeiro sorteio, havia cerca de 30 nomes na caixa para um punhado de serviços de limpeza que durariam um mês. Hoje, depois de quase seis anos de recessão, há cerca de 500 pessoas na lista para o mesmo número de empregos.
Aqueles que comparecem aos sorteios sentam-se em cadeiras com encosto duro, em um salão no andar superior da prefeitura. O silêncio impera. Pineda diz que, quando ele olha por cima dos papéis, sempre vê dois tipos de expressões:
- A primeira é a de ansiedade das pessoas que realmente precisam do emprego. A outra é a de incredulidade quando percebem que o tem.
Às vezes, um vencedor grita. Mas, na maioria das vezes, não há comemoração. As pessoas estão bem conscientes da dor alheia.
- O que eu vou fazer com o dinheiro? Vou é não gastar tudo e guardar um pouco para os tempos difíceis que virão - resume Pérez Zembrana, que aos 32 anos já trabalhou em uma fábrica de alumínio mas tem se sentado atrás de uma mesinha de montar na entrada da piscina da cidade.
Conduzir a loteria também não se tornou uma tarefa particularmente agradável para o prefeito.
- Não há prazer nisso porque você sabe que não é o suficiente. Há pouquíssimos felizes - diz Pineda.
A vila sorteou cerca de 35 empregos no ano passado. Em alguns casos, como nas vagas para salva-vidas, é preciso qualificação.
Na piscina, José del Pozo, 33 anos, amigo de Pérez Zembrana, puxou uma cadeira para lhe fazer companhia. Antigo rebocador, Pozo não trabalha em construções há três anos. A vez dele na loteria chegará. Ganhadores não podem se reinscrever.
Pérez Zembrana teme o fim do mês, quando termina seu trabalho. Apontando com a cabeça para os outros trabalhadores, diz:
- Voltaremos para a rotina de não fazer nada.
Nos últimos cinco anos, a vida mudou na vila de 5 mil habitantes, assim como em muitas partes da Espanha, que está sofrendo com a recessão. Pineda, do pequeno partido Esquerda Unida, conta que muitas pessoas na cidade estão apenas abatidas pelo que ocorreu na economia. Porém, segue tentando criar ainda mais empregos, para sorteá-los.
Alameda alugou fazendas e está cultivando alho e aspargos, esperando transformar o plantio em negócio lucrativo ou, ao menos, em um que não perca dinheiro. Pineda também começou a desenvolver uma extensão de terra na periferia da cidade, para transformá-la em um pequeno parque industrial.
- Se qualquer louco quiser abrir um negócio nesse clima, nós estaremos prontos - espera o prefeito.