Produzir mais e melhor é um desafio permanente no campo. Mas no trigo, principal cultura de inverno do Rio Grande do Sul, a preocupação é ainda maior neste ano. O motivo são os efeitos da seca e a maior exigência de qualidade do produto. Não há receita pronta, mas um consenso: é preciso tecnologia e investimento no solo. Na região de Passo Fundo, no norte do Estado, a combinação entre pesquisa e manejo diferenciado é a prova disso. O ganho em produtividade pode chegar a até 15%.
Fortalecer a terra é o foco do agricultor Lisandro Webber, 42 anos. Nos cerca de 400 hectares da família em Coxilha, no Norte, a evolução é gradativa. O investimento em agricultura de precisão no solo em 2008 fez a produtividade média saltar de 57 para 67 sacas por hectare no ano seguinte. Ao aliar uma cultivar mais resistente à mudança na época da adubação com nitrogênio, o produtor chegou a 80 sacas por hectare em 2011.
Webber seguiu orientação de técnicos da OR Sementes, de Passo Fundo. Há dois anos, participou de uma pesquisa da empresa envolvendo genética e manejo diferenciado. E gostou do que viu. Enquanto em 160 hectares de cultivo tradicional o produtor obteve média de 68 sacas por hectare, nos 200 hectares onde usou a recomendação o resultado foi 85 sacas por hectare. Animado, decidiu estender a medida para toda a área plantada.
- Esse ganho, muitas vezes, é a diferença que falta para alcançar uma faixa maior de qualificação do trigo e obter um preço melhor - ressalta.
A pesquisadora e gerente administrativa da OR Sementes, Amarilise Labes Barcellos, explica que estudos indicaram ser possível obter mais qualidade no trigo se, em vez das tradicionais etapas de adubação nitrogenada no início da cultura e no perfilhamento, também fosse feita uma aplicação na fase de espigamento. Aprovado em laboratório, o sistema correspondeu no campo. E, no caso de Webber, virou rotina no manejo da cultura.
Nova regra exigirá mais qualidade a partir de julho
Amarilis observa, no entanto, que a técnica foi testada em condições adequadas de umidade e nas lavouras de produtores cuidadosos com o solo. Mas a pesquisadora destaca que o sistema está ao alcance de todos, desde que haja disposição de investir em fertilidade. A busca por melhor resultado, aliás, é inevitável diante da nova instrução normativa que exigirá mais qualidade do trigo a partir de 1º de julho. E exige cautela.
- O produtor deve verificar as condições da propriedade, se a cultivar é adequada e se o clima será favorável para compensar o investimento - orienta João Leonardo Pires, pesquisador da Embrapa Trigo.
Para Amarilis, é crescente entre os agricultores a convicção de que tecnologia é o caminho para acabar com a desconfiança quanto ao cultivo de trigo. A pesquisadora frisa que a pesquisa sobre a cultura está muito avançada no Brasil.
- A adoção de técnica adequada e o uso de cultivares resistentes trazem tranquilidade ao produtor. E o investimento se paga com melhor resultado na lavoura - destaca a pesquisadora.