Não é de hoje que o agronegócio busca na palavra resiliência a força para encarar os desafios do campo impostos, principalmente, pelos efeitos climáticos. Para Elizabeth Cirne-Lima, subsecretária do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, assumir a postura de enfrentamento diante das adversidades faz parte do DNA do agronegócio gaúcho.
Em entrevista, ela destaca que os produtores do setor estão demonstrando o perfil de não desistir e continuar resistindo, mesmo diante de um evento sem precedentes como a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul.
O Parque de Exposições também foi afetado. Como foi esse período pós-enchente, em meio à reconstrução do Rio Grande do Sul?
No início de junho, ao ouvir a confirmação do governador do Estado sobre a realização da Expointer, quando ainda era uma aposta, foi um grande momento de alegria para todos que se envolvem com a feira. O Parque de Exposições não teve tanta gravidade, se comparado com seu entorno, já que a enchente interferiu na parte de logística, com interrupções de estradas e outros tipos de acessos.
Nessa retomada, o parque ferveu em obras de recuperação, com ruas sendo asfaltadas e novas conexões de água nas áreas de expositores. Mais recentemente, podemos ver os estandes sendo montados, as máquinas agrícolas chegando. Eu adoro esse momento, tem gente que reclama do barulho, mas, para mim, é música para meus ouvidos. São pessoas construindo as estruturas.
Esse movimento mostra a força e a potência de reconstrução. A primeira pessoa que me ligou quando o parque ainda estava debaixo d’água foi o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier. Ele me disse: "Conta comigo para tudo que precisar, estou do teu lado".
Também me ligou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, que comentou da importância da feira para vários agricultores familiares que já tinham seus produtos em casa.
De modo geral, recebemos apoio em todos os sentidos para a realização e o sucesso dessa feira. Desde relações de contatos, de reuniões, de construção desse conceito ou de convencimento da necessidade de realização da Expointer.
Diante desta grande mobilização, o que você enxerga para o futuro do agronegócio no Rio Grande do Sul?
O Brasil já é visto pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o país que, em 2050, deve produzir cerca de 40% do alimento consumido no mundo. Temos esse reconhecimento internacional de toda a nossa capacidade de produção de alimento e, cada vez mais, de forma mais competente e mais sustentável.
Nos últimos três anos, os secretários de Agricultura e de Meio Ambiente do Estado participaram das diferentes reuniões da Conferência das Partes (COP) — reunião anual de países e de territórios que têm como objetivo discutir medidas que visam diminuir a emissão de gases do efeito estufa.
Na última reunião, o Rio Grande do Sul foi apresentado como um Estado que produz agricultura e pecuária de forma sustentável, atendendo a praticamente todos os itens que foram postos como desafio para o resto do mundo. Isso é muito emblemático, é uma responsabilidade nossa e graças à força da nossa gente.
Como a feira tem sido essencial para o agronegócio?
A Expointer nasceu como uma exposição de animais. Era uma feira estadual, em que se juntavam os produtores de gado de corte para exposição, seleção e comercialização. Então, a alma é a pecuária de corte.
Nos dias de hoje, é um trabalho de, no mínimo, dois anos para preparar um animal de alta genética para que esteja apto para vir para a feira. Possuímos várias ferramentas de seleção genética, com a possibilidade de fazer genoma, coleta de material e análise de DNA de todos os animais.
É possível fazer uma seleção de quais são os animais que vão ser seus principais reprodutores por uma análise genética, por exemplo. Outra ferramenta que usamos é por meio dos julgamentos de performance e de morfologia, como o Freio de Ouro, em que os animais são postos à prova.