O nascimento de um filho aumenta a responsabilidade sobre a gestão financeira da família. É necessário planejar e investir para garantir aproximadamente R$ 1 milhão para o futuro, quando ele atingir 21 anos.
A chegada de um bebê instiga pais e mães a pensarem no futuro. Uma vida de sucesso, cercada de realizações, amor, felicidade e uma carreira promissora costuma fazer parte dos desejos mais comuns para os filhos. Apesar dos sonhos, muitas famílias deixam para pensar nas reservas financeiras apenas quando as necessidades batem à porta. Por isso, planejamento é a chave para alcançar esses objetivos com mais tranquilidade.
Alguns pais e mães entendem que, com a criança, nasce também a responsabilidade de garantir uma reserva financeira. Por isso, começam a poupar tão logo os bebês chegam ao mundo. Neste sentido, quanto antes iniciar o hábito de guardar dinheiro, mais suave será o caminho percorrido. Se a meta for garantir R$ 1 milhão aos 21 anos, é possível iniciar com R$ 1.250 ao mês, afirma o planejador financeiro Thiago Godoy, da Rico Investimentos:
— A uma taxa de rentabilidade de 10% ao ano, para alcançar R$ 1 milhão para os filhos aos 21 anos, pode-se iniciar com R$ 1.250 ao mês (no nascimento da criança) — calcula (veja quadro 1).
Além do tempo, o estilo do investidor também influencia na hora de decidir a opção de aplicação. Como se trata de uma reserva que tem visão de longo prazo, as opções de renda fixa costumam trazer mais segurança para as pessoas. Também é preciso levar em conta as questões de liquidez, caso seja necessário sacar o dinheiro antes do prazo previsto.
— A renda fixa é mais segura. Então, grande parte do patrimônio acumulado deve ser mantido nesta modalidade. A reserva de emergência também deve ser alocada (onde houver liquidez), porque, no momento da necessidade, o recurso precisa ter a liquidez necessária — avalia Flávia Kuerten Michels, analista de Produtos e Negócios da CredCrea.
Na visão dela, a renda variável deve receber cerca de 10% dos investimentos, o que permitiria diversificar os riscos e perseguir rendimentos mais vantajosos
— Isso varia conforme o apetite a risco do investidor – complementa.
Rentabilidade
O professor Marcos Piellusch, da FIA Business School, trabalha com três cenários para garantir o primeiro milhão do herdeiro. No horizonte conservador, são consideradas opções de renda fixa, como Tesouro Selic, CDB, Fundos DI e outros fundos que tenham como referência a Selic. Na simulação moderada, ele considerou um título um pouco mais arriscado, com oscilação de preços ao longo do prazo, como o Tesouro IPCA. Já no cenário agressivo, ele aposta em renda variável (veja quadro 2):
— Com o objetivo de resgatar o valor futuro em data definida, pode não ser adequado usar produtos de renda variável. No entanto, se o objetivo for acumular o valor de R$ 1 milhão para um gasto adicional, é possível arriscar um pouco mais — afirma Piellusch.
Em uma aplicação em um fundo, por exemplo, é muito difícil prever a rentabilidade futura:
— Mas considere que, em média, a expectativa seja de que o rendimento supere a Selic em 50%. Nesse caso, os valores aproximados de aporte seriam menores.
Ele destaca que essa é apenas uma estimativa e que o cenário econômico pode alterar significativamente os rendimentos, havendo até o risco de perda de parte do capital. Porém, importante destacar que em todas as simulações, quanto maior o prazo, menor o valor total aplicado – assim, o juro trabalha a favor do investidor.
— Note que investindo no Tesouro IPCA hoje, até o ano de 2044, o valor total aplicado seria de aproximadamente R$ 411 mil, ou seja, os R$ 589 mil restantes seriam obtidos de rendimento com juros. Isso dá uma mensagem clara. Comece o quanto antes, pois a aplicação mensal será menor e você poderá obter maior ganho com o juro — finaliza.
Poupar para a Sofia
Na casa do contador Gleison Tognarelli Alves do Nascimento, economia é um assunto que está no dia a dia. A filha Sofia, seis anos, ganhou de presente um cofre em que deposita o dinheiro que ganha do pai e da mãe, Bruna Bertoletti. Com esse hábito, aprende o valor de poupar na prática.
— No ano passado, a Sofia passou a usar um cofrinho que tínhamos em casa para depositar moedas e outros trocados que damos a ela. Ela também ganha mesada e ensinamos a guardar as economias para comprar o que ela deseja, como slime, boneca e outros brinquedos. A ideia é ensinar a ter responsabilidade com o dinheiro — conta Gleison.
Além do exercício da poupança, a família também definiu alguns investimentos pensando no futuro. O contador diz que foi a experiência de uma prima que mora nos Estados Unidos que o inspirou a abrir uma conta para a filha, assim que nasceu.
Motivados pela empolgação da neta em poupar, os avós de Sofia – José Maria dos Santos Nascimento e Tânia Tognarelli Alves – abriram uma poupança com um valor inicial e passaram a depositar mensalmente um recurso. Pela legislação, Sofia não pode ser titular da conta, porque é menor de idade. Por isso, a mãe é corresponsável.
— A ideia é manter o investimento até que ela tenha mais consciência para decidir o que fazer. A gente pensa também em migrar da poupança para algum investimento em renda fixa, que tenha segurança e permita que ela possa fazer um intercâmbio ou cursar a faculdade. Também pensamos que, com essa consciência, possa ter autonomia para continuar progredindo financeiramente — complementa Gleison.
Dica da Giane Guerra: "Filhos com equilíbrio"
"Com frequência, converso com família e amigos sobre como imaginamos nossos filhos trabalhando no futuro. Torço que amem a profissão, que não precisem exagerar no trabalho a ponto de afetar a saúde, que seja em um bom ambiente, sem manipulação ou que violente seus princípios. Quanto ao dinheiro, eu quero que eles ganhem o suficiente para terem a vida que lhes deixe felizes, isso inclui, claro, fazer uma boa reserva para garantir a tranquilidade financeira que tanto prezo. E aqui está um equilíbrio importante. A vida que traz felicidade não precisa ser luxuosa, com carro do ano, viagens caras, procedimentos estéticos exagerados e uma mansão para mostrar aos outros. Mais do que ensinar as crianças a ganhar dinheiro, é importante ajudá-las a construir um padrão de vida que as deixe em paz com o trabalho e as finanças, que lhes permita flexibilidade de escolhas e uma conta que feche no azul no final do mês. Viver com menos para ter uma renda passiva, que vem do fruto de rendimentos guardados com dedicação, também é um ensinamento valioso. E lembre-se de que somos espelhos para os filhos. Ou seja, mais do que dizer para fazer, seja exemplo."