Uma alternativa para quem não quer abrir mão do controle do orçamento ganha espaço no Brasil. No começo voltado para quem não tinha conta bancária, o cartão pré-pago se consolida como ferramenta para estancar as contas no final do mês: a pessoa somente pode gastar aquilo que tem como saldo disponível – valores depositados ou transferidos.
— A busca pelo cartão pré-pago tem aumentado pelo controle que ele oferece. Não é como os demais cartões de crédito, no qual há um limite que o usuário pode utilizar com encargos entre 10% a 15% ao mês — explica a consultora financeira na Plano Consultoria Natalia Cunha.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o volume movimentado com esse tipo de cartão aumentou 66,5% e passou de R$ 6,6 bilhões em 2017 para R$ 11 bilhões em 2018. Para este ano, a previsão é de se chegar a R$ 18,55 bilhões. Já regulada pelo Banco Central como modalidade de pagamento, virou aliado no orçamento familiar.
— Se tornou uma ferramenta para controlar os gastos pessoais e da família. Por exemplo, para alguém que monta o orçamento e só pode gastar R$ 600 por mês no restaurante. Também se tornou útil para a mesada dos filhos: em vez de abrir uma conta tradicional, se cria um cartão pré-pago e faz as recargas — diz o planejador financeiro Jailon Giacomelli, da empresa Par Mais.
Opção para receber valores
Giacomelli destaca também o uso do cartão para se receber valores. Um prestador de serviços, por exemplo, fornece os dados do cartão para seu cliente, e o pagamento é feito como uma recarga. Bancos, financeiras e empresas de tecnologia (fintechs) estão puxando para cima a oferta dessa modalidade de pagamento.
Pode ser cobrada uma taxa inicial para uso, mas não existe mensalidade ou cobrança de juros (não se trata de um empréstimo). O acompanhamento do saldo e dos gastos é feito pela internet ou por um aplicativo de celular, o que aumenta a segurança para o cliente. O principal cuidado deve ser ao escolher a empresa ou o banco onde fazer o cartão.
— Deve-se sempre procurar informações na internet sobre a empresa, como no Reclame Aqui, e analisar cuidadosamente as taxas. O maior risco de todos é adquirir um cartão de uma empresa que não seja idônea e os valores que você recarregar não estejam disponíveis quando você for utilizar — alerta o gestor contábil e financista Vinicius Maximiliano Carneiro.
O cartão pré-pago em 10 perguntas e respostas
1 – O que é?
É um cartão que funciona como se fosse um celular pré-pago: a pessoa precisa colocar crédito para usar. Esses valores podem ser colocados no cartão por meio de boleto ou de uma transferência bancária. Mas cada empresa tem uma regra sobre como e quanto se pode recarregar. Alguns limitam o volume de recarga, por exemplo.
2 – Quais as principais vantagens?
É fácil de obter e de usar, não é necessário ter uma conta bancária tradicional e é aceito em praticamente todos os lugares, como acontece com um cartão tradicional.
3 – Como é usado para se fazer compras?
Em geral, o funcionamento é igual ao de um cartão de crédito. Mas você só pode utilizar o limite de dinheiro carregado nele. Quando acaba esse valor, o cartão deixa de funcionar. É quando se torna necessário fazer a recarga.
4 – Quanto custa um cartão pré-pago?
Em geral, é cobrada uma taxa baixa pela compra do cartão e sua habilitação. Mas também pode ser oferecido sem custos. Antes de aderir, verifique todos os custos adicionais. Quanto aos juros, não existem nesse cartão porque não se trata de concessão de crédito, mas de meio de pagamento.
5 – Ele substitui o cartão de crédito tradicional?
Pode substituir em compras à vista. Em geral, os cartões recarregáveis não possibilitam compras parceladas, por exemplo. Alguns são internacionais, mas outros funcionam apenas dentro do país.
6 – É preciso se comprovar renda ou estar com o nome limpo na praça?
Geralmente, estar negativado em empresas de restrição de crédito não limita o acesso ao cartão porque não se trata de uma análise para concessão de empréstimo. Para a instituição, não existe risco de calote. Essa característica torna a modalidade acessível a quase qualquer pessoa, até mesmo a adolescentes. Caso a empresa do cartão limite a idade do cliente, o adulto solicita e coloca o menor de 18 anos como dependente.
7 – Quais empresas oferecem esse tipo de cartão?
Cada vez mais instituições financeiras estão aderindo ao cartão pré-pago. Bancos, financeiras e, principalmente, as chamadas fintechs – empresas de tecnologia ligadas a finanças – estão oferecendo a facilidade. A dica é começar a busca, caso haja interesse, pela instituição que se tem mais familiaridade, como o banco onde já se tem conta.
8 – É seguro ter um cartão pré-pago?
Adquirido junto a uma empresa séria, o cartão praticamente não oferece risco de endividamento. E os valores depositados ficam protegidos. Claro, jamais ofereça seu cartão ou senha a terceiros. Apenas se torna problema se o usuário pegar dinheiro emprestado para recarregar o cartão e ficar endividado com quem lhe emprestou.
9 – Quais os cuidados na hora de escolher o melhor cartão?
- Sempre procurar informações na internet sobre a empresa, como no site Reclame Aqui, e analisar as taxas. É importante checar a reputação da empresa e da bandeira que esta emitindo o cartão.
- Quando o cartão for emitido, verificar se as recargas não precisam passar primeiro pela conta corrente e depois enviadas ao cartão, o que pode gerar despesas e taxas bancárias não previstas.
- Procure sempre uma instituição autorizada pelo Banco Central e certifique-se de estar tratando, de fato, com a instituição em questão. Em caso de dúvida, confirme o telefone e o site oficial no portal do Banco Central.
10 – No final, vale a pena adquirir um cartão pré-pago?
Vai depender do perfil do cliente. Para quem precisa controlar os gastos com o cartão tradicional e não pode abrir mão de compras ocasionais, pode ser uma boa opção. Também pode ser uma opção para quem deseja usá-lo para a repassar a mesada dos filhos ou para receber pagamentos por serviços. Fora essas opções, pode virar apenas mais uma distração financeira e confundir o cliente.
Fontes: consultora financeira Natalia Cunha, planejador financeiro Jailon Giacomelli e gestor contábil e financista Vinicius Maximiliano Carneiro