Gustavo Cerbasi vive o sonho dourado que tem defendido em seus livros. Autor de sucessos de vendas como Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e Dinheiro – Os Segredos de Quem Tem, Cerbasi é um entusiasta da ideia de que escolhas acertadas, equilíbrio e resiliência levam ao enriquecimento até mesmo o investidor conservador. O educador financeiro tem se dedicado a passar essa mensagem adiante.
— As pessoas têm de entender que não trabalham para pagar as contas do mês, mas para pagar as contas da vida, e tem de estar nos planos não trabalhar por toda essa vida — resume, em entrevista por telefone, prestes a embarcar para férias no Reino Unido com a esposa e os filhos. Na conversa, Cerbasi fala sobre os primeiros passos antes de investir, o cenário futuro para quem quer entrar nessa aventura e o que considera ser o pior investimento: a tão sonhada casa própria.
O que despertou em você a consciência de poupar e investir?
Foi a vontade de realizar sonhos. Desde que ganhava meio salário mínimo dando aulas de inglês. O sonho, no começo, era passar o fim de semana com a namorada em uma pousada barata, depois realizar o casamento, depois ter um apartamento maior para ter filhos, depois viajar o mundo. A pessoa tem de ter uma carteira de investimentos que tenha sonhos sendo concretizados no curto, no médio e no longo prazo. O elemento central é ter esse projeto, porque cada etapa nos dá energia para manter a disciplina para as próximas.
Você fala que enriquecer é uma questão de escolha. Pode explicar?
Enriquecer é um processo, como adquirir uma condição física ou se tornar hábil em alguma especialidade técnica. Parte da escolha começa em dar sustentação ao ganhar, investindo em conhecimento, formação. A outra parte tem a ver com saber dosar o desfrute do resultado. Essa decisão envolve estratégias de flexibilidade nas escolhas, de preparação para imprevistos, a criação de uma reserva de emergência. Essas estratégias vão fazer com que as pessoas lidem melhor com frustrações e consigam proteger seu projeto de, por meio de investimentos ao longo do tempo, garantir a sustentabilidade de sua qualidade de vida no futuro.
Qual o primeiro passo para investir?
É ter um consumo de mais qualidade. Não adianta você ter o melhor plano de previdência, conta em banco digital rendendo 100% do CDI ou uma carteira de ações sensacional se o seu orçamento é engessado e, diante de imprevisto, você se vê obrigado a resgatar parte do plano de previdência pagando uma tributação que poderia ser evitada depois de um tempo. Deve-se rever escolhas, rediscutir em família o porquê de algumas decisões orçamentárias para, na hora de montar os investimentos, poder contar com os resultados de acordo com o prazo e o risco assumido.
Que tipo de compra você considera o maior anti-investimento?
Um ponto nevrálgico é a casa própria. Bombardeado pela ideia de que, para ser um adulto bem-sucedido, tem de ter casa própria, o jovem entra num processo de sacrifício para adquirir um imóvel muito maior do que precisa, porque pensa em ter filhos e a casa vai ser paga por 30 anos. Essa casa ocupa um espaço desproporcional no orçamento e vai tolher várias possibilidades de expansão ou mudança da carreira, porque a pessoa se vê pressionada por um compromisso a pagar e isso a torna mais conservadora e temerosa a arriscar um trabalho novo, por exemplo. Essa situação leva a pessoa a adotar uma postura resignada para o resto da vida.
Bombardeado pela ideia de que, para ser um adulto bem-sucedido, tem de ter casa própria, o jovem entra num processo de sacrifício para adquirir um imóvel muito maior do que precisa,
GUSTAVO CERBASI
Como se desenha o cenário futuro para quem quer investir?
A economia brasileira é um privilégio para quem pensa em investir a longo prazo, porque as frequentes crises e quedas da bolsa nos presenteiam com vários momentos de barateamento de ativos. Vivemos um momento interessante para começar a pensar no investimento de longo prazo, para quem tem um plano de previdência 100% conservador mudar para um perfil moderado, com 10% a 15% em renda variável, porque está se comprando ações muito mais baratas e com pouca margem para cair mais.
Como você orienta os jovens de hoje, dadas as tendências de menos consumismo?
A importância do planejamento não muda, porque o jovem tem de se preocupar em ganhar seu dinheiro. E precisa ter uma reserva de emergência mais generosa, porque essa geração não tem planos de trabalhar por 20 anos na mesma empresa. E, estando mais antenada e preocupada em se educar, vai acessar uma variedade muito maior de possibilidades de investimento, o que é uma boa notícia para o mercado financeiro como um todo. Os bancos estão preocupados em revolucionar seus serviços, aderir a fintechs, mas não preocupados como a indústria do automóvel, por exemplo.