Além da pandemia de coronavírus, a estiagem intensificará a queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em 2020. O valor adicionado bruto (VAB) da agropecuária fechará o ano com tombo de 27,91%, empurrando a economia gaúcha para uma retração histórica de 9,69%, conforme estimativa apresentada pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) nesta quarta-feira (9). Para 2021, a expectativa da entidade é por uma retomada rápida, com o setor primário avançando 40,06% e o PIB do Estado evoluindo 8,82%.
Na avaliação da entidade, a área plantada deverá atingir 9,3 milhões de hectares no Estado, evolução de 3% frente a 2020. Já a produção de grãos chegará a 33,9 milhões de toneladas, expansão de 28,4% em relação à safra passada. O crescimento expressivo ocorre por conta da base de comparação deprimida em razão da estiagem, que afetou principalmente o desempenho das lavouras de soja e milho.
A entidade lembra que o tempo seco reduziu em aproximadamente 8 milhões de toneladas a safra de 2020, quando no início do ciclo se esperava uma colheita recorde.
— Perdemos 8 milhões de toneladas porque não irrigamos. Com os preços atuais ou médios de 2020, há uma perda econômica muito maior do que 2012 ou 2005. Deixamos de gerar crescimento, de gerar PIB e de gerar empregos — aponta Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.
Com o tempo seco, o Estado terá uma retração maior do que a projetada para o país em 2020, mas com crescimento acima da média nacional em 2021, segundo a Farsul. A entidade projeta que o PIB do Brasil caia 4,39% neste ano e suba 3,51% no próximo.
Presidente da Comissão do Meio Ambiente da Farsul, Domingos Velho Lopes acredita que o avanço da irrigação nas propriedades rurais só ocorrerá mediante alterações na legislação ambiental atual. O dirigente menciona que na metade Norte, por exemplo, produtores para fazer açudes teriam de intervir em áreas de preservação permanentes (APPs), o que hoje não é permitido.
— Dentro das linhas de crédito existentes, há limite a ser utilizado para irrigação. Hoje, na Fepam, não há licenças represadas. O problema é que o produtor tem consciência de que não vai conseguir fazer a reserva de água porque não vai atender à legislação ambiental — destaca.
Produção
Para 2021, mesmo com o crescimento da área cultivada no Rio Grande do Sul e a projeção de recuperação da produção de soja, a nova estiagem que apareceu nos últimos meses deverá deixar sequelas. No milho, há expectativa de quebra 28,1% na safra, com a colheita de 3 milhões de toneladas. Por outro lado, a oleaginosa, principal cultura gaúcha, deverá render 19,8 milhões de toneladas, elevação de 75,8%.
— Vamos nos recuperar da perda deste ano e ainda teremos crescimento acumulado frente os dois últimos anos. Se chover — frisa Luz, enfatizando que o prolongamento da nova estiagem pode alterar projeções de safra.
Neste contexto, o patamar recorde de preços dos grãos atenuou perdas das estiagem deste ano e traz boas perspectivas para os produtores no próximo ciclo, lembra o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
— O produtor rural está acreditando como nunca na atividade e está investindo para a safra de 2021 — diz.
A entidade estima que o valor bruto da produção (VBP) de grãos chegará a R$ 67,33 bilhões em 2021, acréscimo de 73% em relação à safra passada. Ou seja, este é o valor que seria injetado na economia gaúcha com a comercialização dos produtos, se mantido o atual patamar de preços. Na pecuária, o VBP chegará a R$ 7,33 bilhões ao final do ano, incremento de 61% frente a 2019. O Estado abaterá 2,21 milhões de animais até o término desta temporada, alta de 1,75%.
Pereira lembrou que o Estado poderá, em 2021, ter a confirmação do reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como área livre de aftosa sem vacinação, o que deverá no médio prazo repercutir em aumento no volume de negócios para o Exterior.
O dirigente destacou que a entidade vê com preocupação a situação fiscal do país e defende a realização de reformas administrativa, política e tributária. No âmbito estadual, a Farsul firma posição contra a prorrogação das alíquotas de ICMS nos próximos anos.