A vaca Esperança carrega no nome o sentimento que uniu seu criador, Rodrigo Cherubini, da Cabanha São Valentin, de Nova Prata, e o tratador Juarez Antônio Rodrigues da Silva, na luta por salvá-la da morte. Um ano atrás, quando ela nasceu, parecia difícil que caminhasse — e absolutamente improvável que algum dia ostentasse a manta de reservada de grande campeã da raça devon na 42ª Expointer, em Esteio, como de fato aconteceu.
— A mãe teve problema no leite, não podia amamentar. Pedi ao Juarez que levasse para casa a bezerrinha, para tentar salvar, porque ele tinha umas vacas leiteiras que podiam alimentar ela — recorda Cherubini.
Esperança tinha dois dias de vida. Bebia o leite do úbere de uma fêmea jersey — a qual rapidamente ultrapassou em tamanho. O carinho vinha sobretudo da esposa de Juarez, Inilde Ziliotto da Silva, que é apontada pelo criador e pelo tratador como a “verdadeira mãe” da vaquinha.
Na hora de selecionar os animais que representariam a propriedade na Expointer — entre eles o touro que seria o grande campeão entre os machos da raça — Esperança foi escolhida. Apesar de ainda ser muito menor do que as fêmeas que geralmente disputam prêmios (ela tem 13 meses, ao passo que as adultas que competem frequentemente passem dos dois ou três anos) sua carga genética a habilitava às disputas. Talvez pudesse se destacar nas categorias jovens, pensaram os responsáveis.
Faltava um detalhe importante: depois de um ano abrigada na casa do tratador, era hora de pagar-lhe os serviços e custos com a manutenção da bezerra, que exigiu medicamentos e ração, além de laranjas que abocanhava com gosto quando oferecidas.
— Foi quando propus que, em vez de pagar o Juarez, a gente presenteasse ele com a vaca. Se fosse depois da feira, e ela não ganhasse nada, ia parecer uma coisa sem importância — observa Cherubini.
Esperança foi eleita a segunda melhor fêmea da raça na Expointer — e ganhou o concurso de vacas jovens. Além do orgulho para o novo dono, Juarez, a vaquinha assegura uma bela poupança para a família, porque a roseta de reservada e Grande Campeã valoriza seu passe e sua genética.
Ainda não caiu a ficha, eu fico até nervoso quando falo com a família. Faz décadas que venho à Expointer, mas como expositor foi a primeira vez.
JUAREZ ANTÔNIO RODRIGUES DA SILVA
Tratador
— Ainda não caiu a ficha, eu fico até nervoso quando falo com a família — admite o tratador, que ainda um pouco tímido, completa: — Faz décadas que venho à Expointer, mas como expositor foi a primeira vez.
De fato, Juarez não perde nenhuma feira em Esteio. Ele inclusive tira férias de seu emprego, para acompanhar Rodrigo e o rebanho da cabanha São Valentin. É que 25 anos atrás o peão precisou deixar a propriedade do antigo patrão e hoje companheiro.
— Os filhos entraram em idade de estudar e não tinha transporte escolar lá perto — lamenta.
A saída foi mudar-se para a fazenda de um primo de Rodrigo, onde trabalha nas lavouras de soja. Desde então, abre mão do período de descanso para acompanhar os animais até Esteio. Essa feira, porém, vai também terminar de maneira diferente para a dupla, que precisou deixar o parque logo após o desfile dos campeões, na manhã desta sexta-feira (30).
O sacrifício de Juarez, de ter deixado o convívio diário com os animais da São Valentin, será premiado nesta noite, quando vai assistir ao primeiro filho receber um diploma universitário, formando o primogênito como Engenheiro Agrônomo na Universidade de Passo Fundo.
— Valeu a pena — resume o peão, pilcha e lenço vermelho no pescoço, bigode bem aparado e sorriso largo no rosto.