Menos de um ano após a deflagração da Operação Trapaça, investigação da Polícia Federal que apurou fraudes cometidas por ex-funcionários da BRF para burlar testes de salmonela, a empresa anunciou o recolhimento de 164,7 toneladas de carne de frango in natura da marca Perdigão do mercado interno por risco de presença da bactéria Salmonella enteritidis. O recall dos lotes com ampla publicidade, incluindo 299,6 toneladas destinadas ao Exterior, sinaliza que a empresa não pretende mais ocultar dos consumidores problemas desse gênero – como ocorreu no passado, segundo apontado em investigação da PF.
A medida é justificada também pelo perigo desse tipo de salmonela – monitorada pelo Ministério da Agricultura, juntamente com outros três tipos. Diferentemente da bactéria do tipo pullorum, encontrada nos lotes investigados no ano passado e que resultaram na suspensão de vendas da empresa para a União Europeia, a enteritidis não tem um hospedeiro específico – podendo infectar animais e também humanos.
— A enteritidis é uma das salmonelas que mais causam surtos em humanos no mundo, por isso é mais preocupante — explica Clarissa Vaz, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves.
Segundo a especialista, a autorização de vacina de matrizes a partir de 2003 ajudou a conter a frequência desse tipo de salmonela em animais no país.
— Apesar de um recall ser negativo para a empresa, a medida é muito prudente e demonstra a preocupação com a qualidade do produto — diz a pesquisadora, acrescentando que, se os produtos forem cozidos corretamente, o risco de infecção gastrointestinal é eliminado.
Como se proteger
- Compre produtos inspecionados, que passaram por fiscalização oficial.
- Cozinhe, frite ou asse totalmente a carne e os ovos (que não devem ser consumidos com gemas cruas).
- Não misture utensílios (tábuas de corte e talheres) usados na manipulação da carne ou dos ovos crus com recipientes usados nos alimentos prontos para o consumo, evitando a chamada contaminação cruzada.