Uma paleta de variados tons de verde criada a partir de erva-mate e carqueja. Matizes quentes, de laranja e amarelo, vindas da marcela e do urucum, e o sofisticado off-white como resultado da infusão com canela em pau. A preocupação com a sustentabilidade encorajou estilistas gaúchas a resgatarem técnicas ancestrais de pigmentação natural — que não agridem o ambiente — para o tingimento de roupas.
Tempo, água quente, ervas secas e cascas de árvores típicas do Rio Grande do Sul são tudo de que as artesãs da Aurora Moda Gentil precisam para fazer o beneficiamento de lã em Dom Pedrito, na Campanha.
— Fervemos os pigmentos sem utilizar produtos químicos. Depois, coamos e mergulhamos as peças de roupas. É um processo demorado, feito à mão e com cuidado — conta Érica Arrué Dias, mestre em Design e proprietária da empresa.
O tingimento pode levar até três horas. E não há padronização das tonalidades, fazendo com que cada peça seja única. Vem daí a identificação da técnica natural com o movimento chamado de slow fashion, moda feita em pequena escala, com maior tempo para a confecção e preocupação com todas as etapas da produção.
— O movimento prega que as peças tenham tempo de vida maior, garantido tanto por designs atemporais quanto pela qualidade das matérias-primas utilizadas — explica Tatiana Laschuk, doutora em Design e professora da UniRitter, na Capital.
Coloração natural e sem produção de lixo
A lã tanto pode receber pigmentos quanto pode ser naturalmente colorida. Uma estratégia para fugir de corantes sintéticos poluentes, indica Érica, é apostar em fios fornecidos por ovinos das raças corriedale e crioula, que produzem lã em tons de marrom e cinza. Já os animais da raça merino australiano têm fios brancos.
As propriedades da casca de cebola dão origem a colorações que marcam as peças da Brisa Slow Fashion, marca de Porto Alegre que se dedica a produções com algodão agroecológico colorido com pigmentos naturais. Em uma parceria com supermercados da cidade, a designer de moda Tatiana Stein recolhe cascas de cebola que seriam descartadas pelos estabelecimentos e lhes dá nova função.
— Nossa produção com pigmentos naturais tem limitações de tamanho, mas é humanizada e não gera lixo. É limpa do início até o descarte — afirma Tatiana.
Para a fixação dos pigmentos, mordentes (substâncias para durabilidade da cor) naturais como tanino e ácido cítrico são adicionados aos banhos quentes. Se lavadas de acordo com as instruções de uso, as roupas podem vestir seus usuários durante anos, sem desbotar, explica Tatiana, professora da UniRitter.
Produção: Letícia Paludo