A tendência é altista para os preços da soja no mercado brasileiro, diante da alta das cotações futuras em Chicago para patamares acima dos US$ 10,50 por bushel para todos vencimentos de 2018, prêmios positivos nos portos brasileiros em plena colheita da safra 2017/2018, quebras expressivas na safra da Argentina e demanda global e interna fortes.
A maior seca em décadas na Argentina escancara um mercado de mais de 10 milhões de toneladas de soja para os demais competidores, principalmente o Brasil. A Argentina é o terceiro maior exportador mundial de soja em grãos. Mas a sua importância fica mais evidente quando se trata de derivados – farelo e óleo de soja. O vizinho do Mercosul é o maior fornecedor de farelo e de óleo de soja do planeta, respondendo por cerca de metade de todas as exportações. Exportar derivados é uma solução para mitigar os danos das chamadas “retenciones” – impostos sobre o embarque da soja em grãos, já abolidos pelo presidente Macri para trigo e milho. Também é uma forma de agregar valor ao produto in natura, aliás, estratégia que poderia ser implementada no Brasil, mas que enfrenta resistências dentro do governo.
Os problemas com estiagem nos campos argentinos começaram em novembro do ano passado, mas ficaram mais evidentes a partir de fevereiro. Em algumas regiões produtoras, o volume de chuvas está até 88% mais baixo do que a média histórica. Na região do Pampa Úmido, uma das mais férteis do país, a seca é a pior dos últimos 44 anos. A estimativa de colheita caiu para 42 milhões de toneladas, 12 milhões de toneladas abaixo do previsto no começo da temporada e 15,5 milhões de toneladas inferior ao volume colhido na safra passada. E não está descartada a possibilidade de novas revisões para baixo.
A quebra na produção da Argentina, a firme demanda externa pela oleaginosa brasileira e a maior procura doméstica por farelo têm impulsionado os preços internos de todo o complexo soja. Com a menor oferta de derivados na Argentina, as indústrias brasileiras estão na expectativa de ganhar espaço no mercado mundial. O resultado de tudo isso já pode ser visto nos preços. No acumulado dos últimos trintas dias, os preços de farelo de soja apresentam avanço de 15,6% no atacado em São Paulo. A cotação para embarque da soja nos portos de Paranaguá e Rio Grande, na modalidade spot (pronta entrega), apresenta avanço de 10,4% neste mesmo período.
No interior do Rio Grande do Sul, o preço da soja registra alta de 7,7% nos últimos trinta dias e de 26,5% no acumulado dos últimos 12 meses.
Carlos Cogo é consultor em agronegócio, especializado em análises, tendências e estatísticas dos mercados agrícolas
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