A retirada da vacinação contra a febre aftosa é um dilema enfrentado por governantes e setor produtivo há algum tempo, especialmente no Rio Grande do Sul. Objetivamente, acreditamos que ninguém seja terminantemente contra a suspensão da imunização do gado. Entretanto, as principais dúvidas quanto à retirada surgem pela falta de garantias de que a doença não irá voltar a assombrar o Estado, como ocorreu em Joia em 2001, poucos meses após a conquista da área livre sem vacinação.
Ora, essa garantia não existe. O vírus da febre aftosa não respeita porteiras. Mantê-lo longe dos rebanhos é uma responsabilidade de todos os integrantes das cadeias envolvidas. O que urge discutir de forma objetiva e racional é se estamos prontos e temos condições para fazer a retirada da vacina. Trata-se de um instrumento de defesa contra o vírus e, no momento em que uma ferramenta de proteção é retirada, nós precisamos ter outras.
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Devemos ter reforços da defesa agropecuária, mas também devemos ter produtores conscientes, que não adquirem gado sem procedência comprovada. Precisamos ter maior vigilância nas fronteiras e divisas - com fiscais e policiais - inclusive fora das estradas comuns utilizadas para o trânsito do gado, mas também estrutura e servidores treinados e capacidades para conter um eventual foco da forma mais rápida e eficaz possível. Precisamos ter mais agentes ao longo da fronteira seca e longa com a Argentina e o Uruguai, locais onde há trânsito de pessoas e animais, mas também precisamos de inteligência e estrutura física para contenção e monitoramento.
Países como Inglaterra e Japão, que são ilhas, retiraram as vacinas e registraram o retorno do vírus. Isso comprova que não é simples o processo de exclusão da vacinação. Analisando a conjuntura atual, é possível dizer que deixar de usar a vacina é uma aventura. Daqui a três anos, como foi proposto pelo Ministério da Agricultura na última reunião da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), ainda não sabemos como vai ser. Então é preciso ter, além de um projeto rigoroso, precaução e cautela.
Não podemos colocar fora todas as conquistas já obtidas. Em resumo, somos favoráveis à retirada da vacina, mas precisamos discutir o momento adequado para fazer isso com segurança. O que não podemos admitir de forma alguma é a penalização do produtor rural. No que tange ao poder público, as práticas devem ser adotadas sem ônus ao setor privado, especialmente sem o aumento de cobranças, taxas ou impostos.
Rodrigo Marques Lorenzoni, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul
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