Convidados por Zero Hora a pensar o futuro da produção de alimentos, pesquisadores e líderes do agronegócio projetam mudanças profundas na forma de plantar e colher nos próximos 20 anos. Confira aqui as inovações que devem chegar às lavouras gaúchas até 2037.
Trator guiado por controle remoto
Em um futuro próximo, as máquinas agrícolas deverão percorrer as lavouras sozinhas. Sem nenhum tipo de operador, tratores e colheitadeiras serão acionados de um computador, smartphone ou tablet de qualquer lugar do mundo. Isso porque os dados referentes ao preparo do solo, adubação, plantio, pulverização e colheita estarão armazenados na nuvem.
Mais do que isso, as máquinas agrícolas usarão imagens para identificar fertilidade do solo, doenças, produtividade, tamanho e forma da área cultivada. Sensores de umidade e drones serão empregados para verificar problemas na lavoura e transmitir dados.
– As máquinas agrícolas do futuro serão autônomas e inteligentes. Esse é um futuro que se vê com clareza – projeta o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos.
Sementes mais resistentes à seca
Variações climáticas, como a seca e o calor intenso, não serão motivo de preocupação para os agricultores do futuro. O desenvolvimento de variedades de soja e milho tolerantes ao déficit hídrico é uma das inovações já em estudo e que deve chegar às lavouras em breve. A novidade, acredita o presidente da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul, Narciso Barison Neto, ajudará milhares de agricultores que todo ano ficam "à mercê de São Pedro".
– Daqui para frente, o controle da água será mais importante para tornar a renda estável e os preços mais horizontais – avalia.
Os aplicativos de celular serão ferramentas cada vez mais imprescindíveis para controlar os custos, acompanhar o clima e programar o plantio.
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Colheita robotizada
Com a automação cada vez maior e a mão de obra escassa nas próximas duas décadas, os produtores rurais terão tecnologia para fazer o controle de plantas daninhas e a colheita de hortigranjeiros e frutas por meio de robôs.
A projeção é do agrônomo Christian Bredemeier, professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Departamento de Plantas de Lavoura.
– Serão equipamentos autoguiados com traçados determinados por GPS – explica Bredemeier, ressaltando que a robótica aplicada à agricultura já existe, porém ainda é incipiente.
Maior sustentabilidade
Nas próximas duas décadas, a preocupação com sustentabilidade ganhará ainda mais força. Segundo o pesquisador Edson Luis Bolfe, coordenador de Inteligência Estratégica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), deve aumentar o uso de sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta, o que trará ganhos ambientais e econômicos aos agricultores.
– Já somos uma potência agrícola mundial, o grande desafio é ser uma potência econômica e social – avalia o pesquisador.
Cuidado com o ambiente
Diante de tantas inovações que possibilitam produzir mais, pesquisadores ligados ao ambiente se preocupam com o possível esgotamento dos recursos naturais e com o uso de defensivos.
O agrônomo Sebastião Pinheiro alerta para o impacto da extinção de espécies imprescindíveis para a reprodução das plantas e para a própria agricultura, como as abelhas. E sinaliza: em breve, o mesmo poderá ocorrer com cupins e formigas. Pinheiro ainda projeta que grandes empresas deverão concentrar a produção mundial de alimentos.