O Rio Grande do Sul inaugurou em agosto do ano passado, em Montenegro, a primeira biofábrica de vespas, voltada ao controle biológico de lagartas de milho, soja, pastagens e hortaliças, como tomate e pimentão.
Desde então, a unidade passou a produzir 160 cartelas por mês - cada uma com aproximadamente 50 mil ovos de microvespas. Para um hectare de lavoura, segundo técnicos, são necessárias, em média, duas cartelas para cobrir a área cultivada. No Estado, o serviço é oferecido gratuitamente para o agricultor.
- A demanda hoje é bem maior do que a produção. Recebemos pedidos de todo o Estado para diferentes culturas - conta Elder Leitzke, responsável técnico da biofábrica.
Em uma fábrica instalada no Centro de Treinamento de Agricultores da Emater, as microvespas são produzidas a partir de uma mariposa hospedeira, também desenvolvida no local.
No período médio de 60 dias, os ovos do inseto são encaminhados ao campo, onde eclodem e ajudam a controlar lagartas prejudiciais à produção - reduzindo o uso de agroquímicos. A biofábrica também facilitou a logística para o repasse dos insetos, que antes eram trazidos de São Paulo e Minas Gerais.
Foto Fernando Gomes / Agência RBS
A procura por controle biológico no país vem crescendo para complementar a ação de certos tipos de defensivos químicos que não estão mais dando respostas no tempo necessário, destaca o agrônomo Alencar Rugeri, assistente técnico estadual da Emater:
- Sabíamos que a aplicação massiva de um produto acabaria trazendo outros problemas. É preciso buscar um equilíbrio da produção.
Controle biológico volta a ser alternativa
Acomodados por anos a soluções químicas prontas nas prateleiras para conter pragas, os produtores têm sido despertados a buscar alternativas à medida que essas tecnologias não respondem mais com a mesma eficiência.
A resistência de parasitas a certos tipos de agroquímicos, aliada ao surgimento de novas doenças, faz com que os agricultores retomem a tentativa de fazer uso do controle biológico das lavouras.
As técnicas são conhecidas no campo. Na década de 1980, eram as únicas formas de barrar a ação de insetos, fungos ou bactérias que atacavam as plantações. Com o advento da tecnologia, que trouxe à agricultura ferramentas de prevenção por meio do uso de produtos químicos e de fácil manejo, o controle biológico foi deixado de lado.
- O produtor começou a perceber que apenas uma tecnologia não funciona, é preciso manejo integrado - destaca Ivan Cruz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
O estalo, segundo o pesquisador, veio com o aparecimento de uma das piores pragas do agronegócio brasileiro: a Helicoverpa armigera. Registrada pela primeira vez no Brasil em 2012, a lagarta que ataca os órgãos reprodutivos da planta - e causou prejuízos bilionários às lavouras de milho, soja e algodão - levou produtores a procurar soluções biológicas.
- Na época, não havia produtos químicos para combatê-la com eficiência, pois não se conhecia a praga. Desesperado, o produtor começou a testar outras ações - lembra Cruz, destacando os resultados positivos alcançados pelo controle biológico.
Para combater a lagarta Helicoverpa, os produtores passaram a usar nas lavouras vírus (baculovírus), bactéria (Bacillus thuringiensis) e parasitoide (Trichogramma sp.).
Mercado tímido, mas em expansão
Foto Fernando Gomes / Agência RBS
Mesmo com o crescimento nos últimos anos, o mercado de biológicos no país representa menos de 2% dos produtos de proteção de cultivos. Estimativa do Ministério da Agricultura prevê que essa fatia chegará a 15% até 2020.
A expansão deve se dar com o aumento da escala industrial de microrganismos. Só neste ano, a biofábrica de vespas de Montenegro deverá ampliar em 50% a capacidade de produção de insetos para controle biológico.
- Apesar de ter uma metodologia minuciosa, a produção das microvespas é toda feita de forma manual, com custo baixo - destaca o técnico em agropecuária Higor Barcelos, laboratorista da biofábrica.
Enquanto a capacidade de biofábricas como a de Montenegro aumenta, empresas multinacionais de agroquímicos ampliam seus investimentos na produção de produtos sustentáveis. E, se depender do apelo ambiental, não faltará estímulo para o crescimento desse mercado.
As vantagens vão do menor risco à saúde do trabalhador à preservação dos mananciais hídricos e das espécies de insetos benéficos à produção. A favor dos biológicos, tem-se ainda o menor custo de produção e, consequentemente, de venda, na comparação com os agroquímicos. Na direção contrária, aparecem entraves como a dificuldade de registro dos agentes de biocontrole, pois a lei no país é a mesma usada para os agrotóxicos.