Por Stefanie Cirne, especial
Se você sofre com cólicas e dores durante a menstruação, fique atenta: não é normal ficar de cama nem dependente de remédios nesse período. Quem sente desconfortos muito intensos – inclusive dor para urinar e evacuar, diarreia e prisão de ventre – pode ter endometriose, doença crônica que atinge uma em cada 10 mulheres e é uma das principais causas da infertilidade feminina.
Todo mês, o corpo da mulher se prepara para a gestação desenvolvendo o endométrio, mucosa que reveste o útero e é expelida quando não há fecundação. A endometriose ocorre quando esse tecido "escapa" pelas trompas e se prolifera em outros lugares, como o peritônio (membrana abdominal), os ovários e, em casos mais sérios, a bexiga, o intestino grosso e outros órgãos.
No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), cerca de 7 milhões de mulheres entre 20 e 40 anos sofrem com a doença. O número, porém, pode ser maior – sobretudo porque a dor durante a menstruação já foi naturalizada entre as mulheres.
– Tem estudos mostrando que elas levam de oito a 12 anos desde o início dos sintomas para ter o diagnóstico da doença – diz o professor João Sabino da Cunha Filho, especialista em reprodução humana e responsável pelo ambulatório de endometriose do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Sintomas
Nem toda dor serve como sinal de alerta para o problema. Para suspeitar dele, é importante que as cólicas menstruais e a dor pélvica sejam persistentes e afetem a sua rotina (diminuindo a produtividade no trabalho, por exemplo). As pacientes também costumam relatar dores durante o sexo, problemas intestinais e, em casos mais graves, sangramentos na urina ou nas fezes.
Por outro lado, estima-se que 20% das mulheres com endometriose não manifestem dor ou outros sintomas comuns. Cabe lembrar que mulheres sem filhos, com cólicas desde a adolescência, menstruação prolongada ou que tenham histórico de endometriose na família estão entre os grupos de risco da doença.
Diagnóstico
Como o problema muitas vezes passa despercebido pelos exames laboratoriais e de imagem, a videolaparoscopia ainda é a única forma definitiva de comprová-lo. No procedimento, uma microcâmera é inserida através de pequenos cortes na região abdominal, permitindo que o médico confirme a doença e avalie a gravidade do caso. Métodos alternativos à cirurgia ainda estão sendo estudados.
Tratamento
Infelizmente, ainda não é possível prevenir a endometriose porque os tratamentos disponíveis focam em amenizar os sintomas.
– Hoje se está tentando desenvolver drogas que bloqueiem a proliferação das células endometriais e diminuam os focos da doença – diz Sabino da Cunha Filho. Os medicamentos, porém, estão sendo pesquisados e podem levar alguns anos para chegar ao mercado.
Além de proporcionar o diagnóstico, a videolaparoscopia é tida como o método mais eficaz para o tratamento do problema, porque as lesões podem ser removidas na própria cirurgia. No entanto, ela nem sempre é necessária.
– Não existe uma fórmula para todo mundo. A mulher tem que ser avaliada no seu momento, idade e condição clínica – ressalta o ginecologista Marcelo Martins, coordenador da clínica Endotrat.
Para as pacientes que buscam aliviar as dores, costuma-se recomendar o uso de anticoncepcionais e outros medicamentos para interromper a menstruação. São empregadas substâncias que inibem a produção de estrogênio, hormônio que estimula o crescimento do endométrio.
Infertilidade
A demora em procurar ajuda médica geralmente acaba agravando o quadro clínico e aumentando os riscos de infertilidade. A SBE informa que entre 50% e 70% das mulheres com endometriose têm problemas para engravidar, e que cerca de 40% das mulheres inférteis são portadoras da doença.
No caso de pacientes com dificuldade para ter filhos, os tratamentos mais comuns são a indução da ovulação, a inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro, normalmente combinadas ao tratamento medicamentoso e à videolaparoscopia.
– Sempre que um casal tem problemas para gestar, os dois devem ser avaliados – acrescenta Martins. – O fato de uma mulher ter endometriose não quer dizer que o homem não tenha um problema.