Celebra-se nesta quinta-feira (25) o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, com o objetivo de resgatar as lutas e as resistência das mulheres negras da América Latina e do Caribe contra o racismo, a discriminação e a violência de gênero. A efeméride é reconhecida ao redor do mundo, mas você sabe por que o dia 25 de julho é atribuído à comemoração?
A data foi estabelecida em 1992, ano do 1º Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, para promover discussões sobre os diversos problemas enfrentados por essas pessoas, assim como meios para tentar solucioná-los.
O evento ocorreu entre 19 e 25 de julho. No entanto, foi no último dia de solenidade que representantes de 32 países se uniram e criaram a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-latino-caribenhas, que, em seguida, articulou junto à Organização das Nações Unidas (ONU) o reconhecimento da data.
De acordo com a historiadora Leonice Mourad, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenadora da Diretoria de Articulação Interfederativa do Ministério da Igualdade Racial, o final da década de 1980 foi marcado pela ampliação das discussões identitárias, em que grupos sociais passaram a se organizar em busca de interesses, perspectivas e demandas em comum.
Dessa forma, segundo Leonice, criar a data ajuda a pensar as lutas relacionadas à identidade da mulher negra, latino-americana e caribenha. Além disso, a efeméride procura dar visibilidade à formação da memória coletiva em torno do assunto.
— No que diz respeito ao 25 de julho, ele foi designado para disputar a memória de uma histórica invisibilidade da mulher negra latino-americana e caribenha a nível regional e mundial. Os debates, as lutas não se restringem a esse dia. Estabelecer essa data significa um esforço para lembrar, no sentido de rememorar e no sentido de fortalecer uma pauta — afirma.
Mulheres negras enfrentam opressões múltiplas e que se sobrepõem de acordo com as suas individualidades e experiências. A partir disso, Leonice Mourad explica que, no caso das latino-americanas e caribenhas, o histórico marcado pelo processo de colonização europeu nas Américas e a escravização moldou as formas como as estruturas econômicas e sociais foram organizadas, o que deixa marcas na vida dessa população até hoje.
— Nós, mulheres negras latino-americanas, temos muitas coisas em comum com as mulheres negras africanas, com as mulheres negras asiáticas, com as mulheres negras europeias, mas temos um conjunto de especificidades que está ligado à nossa colonização, aos nossos processos históricos, que vão imprimindo questões específicas na nossa trajetória. A questão do racismo é estruturante da sociedade latino-americana por conta do uso de mão de obra escravizada e isso nos dá uma identidade desde sempre. Isso também vai ter impactos nas questões de gênero de forma significativa — declara a historiadora.
Homenagem a Tereza de Benguela
No Brasil, além do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, o 25 de julho também celebra a líder quilombola Tereza de Benguela desde 2014, por meio da lei 12.987. Ela foi um dos grandes símbolos de resistência contra a escravização no país.
Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do Quilombo do Quariterê, atualmente no Estado do Mato Grasso. Sob a liderança dela, a comunidade negra e indígena que ali residia resistiu à escravização por duas décadas durante o século 18.
— Ela assume a liderança da comunidade e efetivamente se notabiliza como uma política, uma administradora muito eficiente. Dos dados que nós temos, ela comandava economicamente, politicamente e tinha relações muito boas. Tinha um perfil de diplomacia e de negociação muito significativo. Ela é uma personagem histórica que nós temos registros que protagonizou, no século 18, lutas e enfrentamentos, ocupando um papel de destaque — conta Leonice.
A professora aponta que a historiografia fala pouco de Tereza de Benguela e há algumas divergências em relação à trajetória dela. Os dados se concentram a partir da resistência e pouco em torno de sua origem.
Há pesquisadores que afirmam que Tereza teria sido assassinada quando a sua comunidade foi derrotada, a partir dos avanços dos Bandeirantes naquela região. Outros relatam que ela teria tirado a própria vida para não ser morta pelos inimigos.
*Produção: Carolina Dill