A queda da temperatura é capaz de provocar diferentes alterações no organismo, que podem ser potencializadas a partir de hábitos comuns de serem iniciados ou deixados de lado no inverno. Por exemplo, quando o frio chega, é quase universal a escolha por um banho com a água muito quente — quase pelando — ou o pensamento sugestivo de deixar a higienização para o dia seguinte. Porém, ambas as opções trazem efeitos indesejados.
Para entender quais práticas podem ser prejudiciais e as recomendações para manter a saúde feminina em dia, Donna consultou a dermatologista Rosemarie Mazzuco, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologista no RS (SBD-RS), e a ginecologista Mona Lúcia Dall'Agno, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS (Sogirgs).
Banhos muito quentes e prolongados
Durante o inverno, a pele produz menos secreção sebácea, um de seus mecanismos de proteção e hidratação, por conta da queda da transpiração e da circulação de sangue nas extremidades do corpo. Logo, banhos muito quentes são prejudiciais porque retiram a oleosidade natural, danificando a barreira cutânea e piorando ressecamentos.
— É preferível que você esquente o banheiro ao invés da água. Ela não pode estar tão quente, não deve deixar a pele vermelha e causar ardência. Deve estar em uma temperatura confortável, semelhante à do corpo — aponta Rosemarie Mazzuco.
Outro ponto de atenção é o uso excessivo de sabonetes. Em um período em que a pele está naturalmente mais ressecada, a indicação é priorizar produtos com finalidades hidratantes ou óleos de limpeza. Após o banho, um creme hidratante deve ser aplicado pelo corpo.
— Os banhos devem ser rápidos e com o mínimo de sabonete. Ele deve ser usado em áreas mais oleosas e de dobra, como axilas e abaixo dos seios, não sendo necessário esfregar tanto — reforça a dermatologista.
No caso do rosto, a indicação é lavá-lo com água morna, de preferência na pia. A skincare deve ser feita sem exageros e com orientação de um especialista. Segundo Rosemarie, é recorrente mulheres buscarem atendimento neste período por conta de dermatites irritativas, quando a pele está mais sensível em razão do clima e tem uma piora por conta do uso de produtos inadequados.
Fonte de calor nos cabelos sem proteção térmica
A água quente também danifica os fios e o couro cabeludo. Fontes de calor, como o secador na temperatura máxima, tendem a intensificar a deterioração.
— O cabelo molhado é um cabelo mais permeável às agressões. Quando você aplica fonte de calor em um fio que está mais sensível, acaba agredindo mais — explica a dermatologista.
A solução é aplicar um protetor térmico antes da secagem e colocar o equipamento no modo morno. Conforme a médica, é importante ter maior cuidado com a hidratação do comprimento às pontas, com o uso de máscaras e condicionadores.
Lenços umedecidos na região íntima e duchas vaginais
Não é incomum o desejo de deixar o banho para o dia seguinte para se proteger do frio. Contudo, há mulheres que optam pelos lenços umedecidos e pelas duchas vaginais para a higienização íntima, práticas que não são recomendadas.
— Esses artefatos são para momentos de exceção. Nada substitui a água com sabão neutro, de preferência líquido, com menos influência no pH vaginal. O lenço umedecido é um produto químico com componentes que, muitas vezes, não são os mais adequados e que podem ser irritativos — ressalta a ginecologista Mona Lúcia Dall'Agno.
A limpeza íntima correta é indispensável para evitar infecções fúngicas ou bacterianas. Ela deve ser feita apenas na área externa da vulva e sem excessos. A especialista reforça que a região é composta por pele e merece um cuidado nesta época do ano para que as condições da estação não favoreçam o ressecamento.
Consequências da baixa temperatura
As diversas camadas de roupas necessárias para enfrentar o tempo deixam, inevitavelmente, diferentes regiões do corpo mais abafadas e úmidas por conta do calor provocado pela oclusão, especialmente a área íntima.
— Não existe uma recomendação oficial, mas observamos a região íntima mais abafada, o que pode causar um desequilíbrio da flora vaginal e propiciar infecções locais. O ideal é tentar um equilíbrio: se ao longo do dia precisa estar com mais roupas, ao chegar em casa, se possível, a dica é usar algo mais solto, que deixe a pele transpirar — informa a ginecologista.
Tecidos sintéticos, como poliéster, e o uso prolongado de peças apertadas podem contribuir para a proliferação de microrganismos. Com isso, a pele como um todo precisa estar arejada por alguns momentos, de acordo com a dermatologista. A orientação é secar bem o corpo antes de vestir a roupa e priorizar tecidos naturais, como algodão, que são transpiráveis.
Outra circunstância que se sobressai durante o inverno é a relação entre o uso de antibióticos para tratar infecções respiratórias e a propensão para o desenvolvimento de infecções vaginais. Mona Lúcia explica que o medicamento atua no corpo inteiro, inclusive nas "bactérias do bem":
— Tratamos a questão respiratória com um antimicrobiano, medicação que vai agir em outros locais do organismo. Na região vaginal, o que vemos é um possível desequilíbrio da flora após o uso, pela possibilidade de haver um comprometimento das bactérias que fazem a sua defesa. A partir disso, podemos ficar propensas a infecções vaginais e candidíase.
Isso não significa deixar de tomar os medicamentos. É preciso seguir a recomendação médica pelo período estabelecido. Se adversidades forem observadas, um ginecologista deve ser procurado.
Cuidados básicos
Alguns hábitos geralmente esquecidos durante a estação devem ser mantidos o ano todo, como ingestão de água, aplicação de protetor solar, manutenção de exames periódicos e a observação do próprio corpo.
— O que eu acho mais importante de destacar é não deixar o inverno nos intimidar. Muitas vezes, por conta do clima frio, acabamos nos desanimando e deixamos de fazer as nossas rotinas, nossos exames. O principal é não deixar de fazer os cuidados de saúde no geral — propõe Mona Lúcia.
*Produção: Carolina Dill