Já ouviu falar no termo "midsize"? O conceito, que tem ganhado força nas redes sociais, busca englobar uma nova perspectiva entre as pessoas (em geral, mulheres) que não se consideram nem gordas, nem magras. "Mid", em inglês, significa "meio", enquanto "size" quer dizer "tamanho". Portanto, a tradução livre seria algo como "tamanho do meio" ou "tamanho médio". Diversas modelos e influenciadoras que produzem conteúdo sobre moda e autoestima se denominam dessa forma com o objetivo de inspirar os seguidores a aceitarem melhor seus corpos e buscarem roupas que os vistam bem.
Em geral, são mulheres que não se consideram magras dentro do padrão estético, mas também não se sentem representadas pelo movimento plus size e não enfrentam os preconceitos da gordofobia. Ainda que não exista uma regra clara, seriam consideradas midsize as que vestem as numerações entre 42 e 48. Entretanto, por conta da falta de padronização na modelagem e das diferentes formas pelas quais as mulheres podem ser submetidas a pressões estéticas, essa é uma régua variável de definição.
Uma das precursoras do termo foi a comediante estadunidense Amy Schumer, que veio a público se manifestar por não concordar com uma lista da revista Glamour, de 2015, que fazia referência a mulheres fora dos padrões de beleza e que eram consideradas inspiradoras. Na época, a artista utilizou seu perfil do Instagram para frisar que não compactuava com o material, já que não se identificava nem com os tamanhos convencionais, nem com os tamanhos plus size.
Pertencimento ou apenas mais um novo rótulo?
Muitas das mulheres que se entendem como midsize também fazem parte da ideia de positividade do corpo, movimento conhecido como "body positivity", que busca exaltar a beleza de diferentes tipos de biotipos.
Marielle Schmitt, 28 anos, que se descreve como modelo midsize em sua biografia do Instagram, sentia falta de representatividade na mídia e também tinha dificuldade para encontrar roupas que valorizassem o seu biotipo quando descobriu o conceito de midsize.
— Foi nessa busca de achar um lugar para pertencer que encontrei a nomenclatura midsize. Não sei se foi no Instagram ou no Google, mas na hora estalei: "Nossa, é exatamente isso, eu sou midsize. Não sou uma mulher magra e não sou uma mulher gorda" — conta Marielle.
Na época, ela vestia o número 46 e não entrava nos tamanhos "G" das lojas de departamento. Em paralelo, pensava constantemente em buscar peças que escondessem suas características. Quando conheceu o movimento midsize, pensou no que poderia fazer com a novidade e, a partir disso, encontrou uma nova forma de se perceber e decidiu apresentá-la para outras pessoas.
— Eu resolvi assumir a postura de que (o conceito midsize) é um lugar para eu poder assumir as minhas curvas, que são lindas, e não ficar me prendendo, me limitando. Mostrar para as mulheres que esse lugar é legal, é lindo. O importante é ter o corpo saudável e não ficar se julgando — declara.
Marielle afirma que sua percepção sobre si mesma foi mudando conforme foi pesquisando sobre assunto, ouvindo e conversando com outras pessoas. Também foi se reconhecendo ao se sentir representada por outras mulheres que compartilhavam características e vivências semelhantes às suas. Fora da internet, passou a observar que as pessoas ao seu redor também têm formas que fogem dos padrões.
— Esse movimento está andando muito mais por conta das jovens em razão das redes sociais, nas quais elas falam muito mais. Mas quem mais pode se identificar (com o conceito midsize) são as mulheres adultas, como mães que já tiveram seus corpos modificados na gestação, aquelas mulheres que já passaram dos 40 anos e que o metabolismo já não responde da mesma forma — propõe.
Identificação e representatividade
Sobre a identificação das mulheres com o movimento midsize, é importante para o ser humano o processo de conseguir nomear o que se é e de enxergar a si mesmo, aponta a psicóloga Ana Maria Bercht. No entanto, a especialista salienta que é preciso refletir sobre a origem das categorias que estão sendo utilizadas e se elas podem estar (ou não) a serviço de algum setor, como da indústria da moda e da beleza.
É relevante pensar se "você que está vestindo a roupa, ou se a roupa que está te vestindo", pontua ela. As peças (como as destinadas a mulheres midsize) não devem ser capazes de determinar uma identidade, frisa a psicóloga, que ainda propõe uma reflexão sobre a diferença entre a forma como as mulheres são cobradas por suas aparências em relação à maneira como os homens lidam com o mesmo tema.
— O quanto os homens estão preocupados com essa questão e param para pensar: "Será que eu sou small size, midsize ou plus size?". Nós não vemos essa preocupação por parte do público masculino. Parece que a beleza se torna uma tarefa que as mulheres devem ao mundo e que os homens não têm. Nós incorporamos essa característica como algo que temos que dar em resposta. Inclusive, é algo que acaba afetando as nossas relações interpessoais e as possibilidades de vida — reflete a profissional.
Quando a mulher não atende ao padrão esperado, ela acaba em um lugar de invisibilidade social, no qual passa a não ser vista e valorizada. Ana Maria diz que é preciso tomar cuidado para não reforçar a ideia de que o "sentir-se bonita" é um valor essencial na vida de uma mulher. Assim, a sociedade pode parar de ancorar a identidade feminina na beleza. Para ela, para mudar essa realidade, deve-se olhar com uma visão mais ampla para a estrutura social.
— Não basta só eu aceitar o meu corpo, porque esse discurso da beleza vai seguir existindo — afirma.
De acordo com Ana Maria, quando as pessoas se sentem representadas de forma positiva na cultura, nas redes sociais ou na mídia em geral, isso auxilia o desenvolvimento de um senso de autoidentidade e eleva a autoestima.
— Conseguimos ver que tudo bem eu existir sendo do jeito que sou. Então, tira essa marca do negativo, do feio.
Ao mesmo tempo, a psicóloga reforça que esse não deve ser o objetivo final. Ou seja, não é o fato de ter mais mulheres com corpos diversos aparecendo em determinados espaços que vai resolver o problema do machismo e da gordofobia, por exemplo. Mas significa um passo importante nessa direção.
*Produção: Carolina Dill