Sob muitos aspectos, a data de 8 de março não é exatamente uma homenagem, mas um chamado à sociedade para mudanças ainda necessárias. Nesse sentido, vale demais olhar no entorno e apontar o que falta, o que ainda poderia melhorar. E, conforme o contexto social, a lista se torna mais longa.
Convidamos cinco mulheres, de diferentes áreas, a apontar que mudança, notícia ou conquista gostariam de testemunhar nesse Dia Internacional da Mulher de 2022. Confira!
"Eu gostaria que a licença-maternidade passasse a ser de, no mínimo, seis meses. Esse período é uma gestação extra-uterina, na qual o bebê precisa muito da amamentação, da presença da mãe, do seu colo, do seu olhar, da sua voz e do seu cheiro para uma boa estruturação. As mulheres também ficam muito cansadas no puerpério, precisam de ajuda e de descanso. Voltar a trabalhar depois de quatro meses do parto pode ser prejudicial para todos os envolvidos".
Atriz, performer, pesquisadora, bailarina e produtora, 47 anos
Miréia Borges
"Sou da geração baby boomer, pegamos muitas revoluções da mulher. A nossa geração jamais vai se calar. Eu mesma fui muitas vezes à frente. Nós vamos fazer com que o mundo nos enxergue ainda. Então, gostaria de abrir o jornal ler algo sobre isso: que os 'old boomers', como eu chamo, têm muito a fazer ainda com idades 60+. Somos ativas. Mostrar o que essas mulheres estão fazendo. A indústria, o comércio parece que não nos enxerga. Estão muito atrelados aos jovens. Então eu queria notícias que mostrassem que essa mulher 50+ ou 60+ ainda é muito ativa, que toma conta sozinha de muita coisa, que é porreta, que vai à luta. Queremos abrir uma revista e ver a moda feita para nós, para o nosso corpo. Os cremes que divulgam, por exemplo, para rejuvenescer: na propaganda aparece uma mulher jovem, como que prometendo aquele resultado, a gente sabe que não é assim. Fico muito chateada que a sociedade ainda nos reprima por causa da idade. O novo é belo, o velho é feio. Tem muito preconceito, principalmente aqui no Sul. E a pessoa de mais idade é linda, tem opiniões e sabe se posicionar".
Produtora de conteúdo digital, 65 anos
"Até pouco tempo, homens caminhando nas calçadas, ao nos verem dar a seta, cessavam o passo e faziam sinais com os braços para nos 'ajudar' a estacionar. Hoje somos tantas no trânsito e com tantos índices que comprovam nosso bom desempenho com carros, que ninguém mais acha que não sabemos usar os espelhos retrovisores. O mundo, inegavelmente, está mudando. No momento, a Europa Oriental está em guerra, líderes de toda parte opinam, conversam e eu fico só pensando: cadê as mulheres? Sinto falta da Angela Merkel e de outras vozes femininas discutindo e definindo o futuro do planeta. Outro dia assisti (e chorei, confesso) ao documentário The Rescue, sobre o resgate dos garotinhos presos numa caverna submersa na Tailândia, em 2018. O filme é lindo, mas me incomoda ver dezenas e dezenas de homens batendo cabeça e tentando resolver uma questão absolutamente inédita sem ouvir mulheres. Tenho certeza que alguns cérebros femininos ali ajudariam e muito".
Jornalista e escritora, 44 anos
"A notícia que eu gostaria de ler e que também seria uma conquista que cairia muito bem neste Dia da Mulher de 2022 é... 'Foi criada a Universidade Atinúké, sobre o pensamento de mulheres negras! Um Coletivo de mulheres incríveis idealizou, sonhou, trabalhou incansavelmente e hoje se torna realidade! Finalmente, chegamos a um percentual que representa de fato a equidade no Brasil e a população que se autodeclara negra está presente na universidade, cada vez em maior número, prosperando e se emancipando! Valeu Dandara, valeu Zumbi, valeu Atinúkés!'".
Atinúké, professora da Unipampa/Campus Jaguarão e do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da UFRGS/PPGMUSPA, 54 anos
"Uma conquista que eu gostaria de ver consolidada é o aumento do número de mulheres em cargos de chefia e liderança na área da saúde. Nós, mulheres, sobretudo as mulheres negras, formamos a base do atendimento à saúde no país. Mas raras ocupam cargos em que efetivamente podem exercer papéis decisivos e, assim, fazer mudanças mais genuínas".
Médica pediatra, 75 anos