Hoje, depois de viver a maternidade na pele, quais conselhos você daria para aquela mulher inexperiente e cheia de idealizações? Neste Dia das Mães, a Revista Donna convidou cinco leitoras para fazer esse exercício: escrever uma carta pensando no início da sua caminhada, quando ainda carregavam seus bebês dentro da barriga. Naquela época, elas não faziam ideia do que viria pela frente – do susto da gravidez de gêmeas a um filho com autismo, da solidão do pós-parto ao medo de esquecer do lado mulher, profissional e de tantas outras facetas. A seguir, leia o relato sincero de Ana Paula Almeida de Oliveira. E prepare-se: já deixe o lenço à mão, porque a chance de você se identificar e se emocionar é gigante. Feliz Dia das Mães!
"É um amor surreal, embora exija uma doação integral que fará você esquecer muitas vezes quem é"
"Você vai ouvir mais de uma vez que ‘é possível conciliar tudo quando virar mãe’. Que você ‘não precisa abrir mão de tanta coisa assim, apenas adaptar a rotina’, ou ainda que a ‘criança não pode ditar o ritmo da família’. Não dê ouvidos, é tudo balela. Prepare-se para não ser mais prioridade. E isso será um processo bem dolorido. Você chegará cansada em casa depois de um exaustivo dia de trabalho e não conseguirá relaxar com os pés para cima no sofá. Não vai ter mais aquele fim de semana para recarregar as energias, porque o dia (e a noite) com uma criança é sempre agitado. Os jantares diários que serviam para bater papo com o marido serão interrompidos a cada minuto ao som de ‘manhêêê’. Assistir a um filme em fragmentos curtíssimos vai virar rotina, porque o Joca precisa jantar, quer ir ao banheiro, brincar, demanda atenção integral, não dá para piscar os olhos. É um trabalho 24 horas, sem folga, e não é bem essa a maternidade que você idealizou.
Você não entenderá o que sente. Desejará tempo sozinha, mas as viagens a trabalho – oportunidade perfeita para sair da rotina da casa – se tornarão um sofrimento sem tamanho.
Claro, ele é maravilhoso, saudável e agitado, como qualquer menino de sua idade. E você vai amá-lo de um jeito inexplicável. Só que você não é uma super-heroína, não dará conta de ser uma baita mãe, esposa, mulher e profissional o tempo todo. Suas expectativas são irreais e você vai tomar um tombo feio. Se sentirá esgotada e levantará da cama a contragosto num domingo de manhã gelado para brincar com o filho – no fundo, queria mesmo é dormir até meio-dia. E a culpa virá. Será aquele misto de sentimentos: amo tanto esse guri, mas só queria descansar um pouquinho. Mesmo com uma forte rede de apoio e vários ‘vale nights’ ao lado do marido, às vezes vai bater a saudade daquela liberdade antes da vida materna. Em várias situações, você não entenderá o que sente. Desejará tempo sozinha, mas as viagens a trabalho – oportunidade perfeita para sair da rotina da casa – se tornarão um sofrimento sem tamanho. No primeiro dia, vai amar ter um tempo só para si. No segundo, estará sozinha no quarto de hotel em lágrimas, com o coração apertado de saudade. A vontade será de largar tudo e sair correndo para abraçar seu filho.
Nesses altos e baixos, a terapia se tornará um caminho para entender essas emoções contraditórias. E também uma forma de cuidar de você para estar inteira na criação do Joca. Quando a mãozinha dele procurar a sua antes de colocá-lo na cama, tudo fará sentido. É um amor surreal, embora a maternidade exija uma doação integral que fará você esquecer muitas vezes quem é. E tudo bem sentir tudo isso. Você continua sendo uma grande mãe".
Ana Paula Almeida de Oliveira, 37 anos, analista de RH, de Porto Alegre, mãe do Joaquim, de três anos.