Em 2015, a gaúcha Marthina Brandt foi coroada Miss Brasil. Chegou muito bem cotada ao Miss Universo e garantiu uma vaga entre as 15 melhores colocadas na competição. Depois do título de beleza, focou nos negócios: está à frente de uma empresa de produção executiva na área da moda e atua como influenciadora digital. A trajetória exitosa da jovem de 29 anos na passarela aliada à sua pegada business woman credenciou Marthina para assumir um posto-chave há poucos meses: diretora-executiva do Miss Universo Brasil. Desde novembro, a empresária lidera a nova equipe que assumiu a organização do principal concurso de beleza do país — agora, a franquia passou a contar com o termo "universo" no nome. E o convite foi recebido com surpresa, ela conta:
— Fiquei alguns dias refletindo, porque sabia que era uma responsabilidade muito grande. Para mim, não é só profissional, é bem pessoal. Quero corrigir falhas que eu vivi na minha época de miss, e na organização posso mudar muita coisa.
Novo projeto
Todas as demandas passam pelo crivo de Marthina. Até porque a gaúcha só aceitou estar no comando após apresentar um projeto estratégico para modernizar o concurso e receber total liberdade. A ideia é ter mais diálogo com o público e tirar a vencedora do pedestal. Isso, ela ressalta, sem "descaracterizar um concurso que existe há quase 70 anos".
— Fico feliz que hoje em dia exista outra visão, além da mulher magra, com tantos centímetros de quadril. Esses padrões mudaram. A beleza é subjetiva, vai além da externa — diz Marthina.
A gaúcha lembra que participou de um momento histórico: entregou a faixa para Raissa Santana, em 2016, que quebrou um jejum de 30 anos sem mulheres negras coroadas Miss Brasil. Marthina defende ainda que o público feminino quer "ser representado por quem tem voz":
— Torci muito pela Raissa, foi uma festa, não consegui esconder o quanto eu estava feliz. A miss não pode ser só uma mulher bonita, tem que fazer jus a esse papel de se impor, de expor as opiniões, defender causas. Não é apenas representar a beleza, isso já passou.
Vai ter Miss Brasil em 2021?
Sim! Marthina explica que o cronograma atrasou em razão da pandemia, mas, em 2021, a tradicional competição de beleza está confirmada. Ano passado, os Estados não enviaram representantes, e a organização indicou o nome de Julia Gama para receber a coroa sob a justificativa da instabilidade devido ao coronavírus. Agora, o concurso volta aos moldes anteriores, mas com adaptações: sem plateia, apenas jurados, organização e candidatas.
— Vamos ter todo um sistema de testes, e as misses vão ficar em quarentena um tempo antes de encontrarem as outras candidatas. E vamos seguir todos os protocolos. Em nenhum momento apoiamos o que não seja seguro — reforça Marthina.
As etapas por Estado começam em maio. Já a disputa nacional deve ocorrer em meados de setembro.
O diferencial de Julia
Antes da coroação de Julia Gama, em agosto de 2020, Marthina confessa que só conhecia a gaúcha de ouvir falar, já que as duas circulavam no meio dos concursos de beleza. A construção de uma relação próxima, de parceria, se deu mesmo a partir do fim do ano passado, quando Marthina assumiu a direção do Miss Universo Brasil e passou a ajudar Julia na preparação para a etapa mundial. E um dos pontos que a empresária auxiliou Julia diretamente foi na questão de estilo.
— A Julia é extremamente aberta. E ela mesmo dizia que tinha mais dificuldade de se encontrar nos looks. Nesses meses, nos preocupamos que, na primeira impressão, ela já consiga mostrar a personalidade. Eu e ela temos um contato diário — ressalta Marthina, que trabalhou nesse identidade visual junto do stylist Diego Tofolo.
E os trajes?
Marthina acompanhou bem de perto a escolha das roupas que Julia levou ao Miss Universo, das casuais aos trajes que ela usará na passarela. Na mala, há looks de grandes marcas, como Colcci, Iodice e Chanel. Mas o destaque vai para as peças do estilista Vitor Zerbinato, escolhidas a dedo por Marthina:
— A coleção dele tem muito a ver com a Julia, das cores ao que representa. É uma ideia de vir das cinzas, do momento que estamos vivendo, e depois passar por uma transição, vir algo mais iluminado nos looks até chegar a uma fase mais floreada e feliz.
O traje típico, assinado por Michelly X, foi revelado há poucos dias e faz referência à produção de algodão no Brasil. Nas redes sociais, a escolha recebeu elogios de alguns fãs, mas também gerou questionamentos de parte do público sobre a aposta num tema inusitado.
— Se privar pelo medo acho que não vale a pena, a gente precisa ser ousado e fazer diferença. Faz total sentido falar do agronegócio, é uma fonte de receita importante para o país. O Brasil é o país do Carnaval, da festa, das belezas naturais, que recebe bem as pessoas, mas também somos um país de uma economia muito forte — defende Marthina.
— Acho que ficou bonito e delicado. E o fato de ser mais neutro também chama atenção, isso pode trazer um outro olhar.
Sobre o esperado vestido de gala, a diretora adianta que Julia usará duas peças da estilista gaúcha Daniela Setogutti — algo incomum pensando no retrospecto brasileiro na competição:
— A nossa estratégia será um vestido para a preliminar e um para a final. Não posso revelar o tema, mas posso dizer que serão dois vestidos que se conectam, contam uma história.