Correção: a segunda temporada da websérie teve apoio financeiro do Sindibancários, e não como publicado entre 18h07min e 20h54min desta segunda-feira (29). O texto foi corrigido.
Das feridas expostas, a cura. A violência doméstica e sexual espreita os lares de milhares de brasileiras, junto com a culpa e a vergonha. Partindo da premissa de que o compartilhamento dessas histórias pode encorajar outras mulheres a pedir ajuda, atrizes gaúchas se reuniram para a terceira temporada da websérie Confessionário - Relatos da Casa, em que contam casos reais - próprios ou não - de agressões e abusos.
No episódio de estreia, disponível a partir das 19h desta segunda-feira (29) no canal do Confessionário no Youtube, quem conta sua história é a porto-alegrense Tânia Farias, 45, uma das mais respeitadas atrizes gaúchas e integrante da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Aos 19 anos, a artista caminhava de volta para a casa quando sofreu um estupro coletivo. Com uma faca no pescoço e medo de morrer, ela não pôde gritar por ajuda. A gaúcha passou a falar sobre o caso publicamente em 2013, ao fazer uma peça solo chamada Desmontagem Evocando os Mortos – Poéticas da Experiência.
— Pelo retorno de muitas mulheres, fui me dando conta de que era importante ouvir uma pessoa que consegue falar sobre isso e que transformou algo tão ruim em um tipo de potência. Às vezes, você precisa ouvir o outro para entender que precisa falar para conseguir tirar a mochila das costas. A gente sente que não está sozinha — explica.
Abrir o jogo sobre seus próprios traumas também é, em si, apontado como um processo de resolução. Tânia explica que, mesmo antes de começar a compartilhar seu relato, já sentia necessidade de expor o caso.
— Quem deparar com esses depoimentos certamente vai se alimentar de algo que é fundamental no combate sistêmico a essa violência — avalia.
A ideia do Confessionário veio em 2020, quando a diretora e atriz Deborah Finocchiaro, que também assina o roteiro com Luiz Alberto Cassol, viu as estatísticas de feminicídio aumentarem durante a pandemia. Enquanto a primeira e a segunda temporadas foram feitas de maneira voluntária, com recursos do Sintrajufe e do Sindibancários, respectivamente, desta vez o projeto venceu um edital da Lei Aldir Blanc e pôde remunerar as artistas. Ao longo do trabalho, criado ao lado de Luiz Alberto Cassol, Deborah afirma ter relembrado algumas situações do passado, identificando-as como assédio.
— Está do nosso lado, na nossa frente, atrás, nos nossos poros — aponta.
No dia seguinte ao estupro de Tânia, toda a vizinhança já sabia do ocorrido: um vizinho tinha visto o crime, mas não fez nada para tentar ajudar. Uma situação semelhante é relatada em outro episódio, que traz um caso de violência doméstica.
— O cara prendia ela, e ela gritava. Quando ela viu uma vizinha na janela da frente, pensou: “Estou salva”. E a vizinha simplesmente fechou a janela. Que Deus me livre de eu ser a mulher que fecha a janela — conta Deborah.
A diretora ressalta que é necessário entender como cada um pode ajudar dentro das suas possibilidades.
— Esse papo de briga de marido e mulher... a gente precisa meter a colher — enfatiza.
A terceira temporada de Confessionário - Relatos da Casa pode ser assistida sempre às 19h, nas segundas e quintas-feiras no canal do projeto no Youtube, e nas terças e sextas-feiras no IGTV e Facebook. Serão nove relatos, dos quais cinco serão de situações vividas pelas próprias atrizes. O material desta e das outras temporadas fica disponível nas redes sociais da websérie.
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
Via telefone pelo número 190. O serviço funciona 24 horas e atende emergência de risco imediato em todos os municípios.
Polícia Civil
A Delegacia da Mulher de Porto Alegre está localizada junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas de forma online em delegaciaonline.rs.gov.br. Fones (51) 3288-2173, 3288-2327 e 3288-2172. Para emergência, ligue 197. O WhatsApp para contato é (51) 98444-0606.
Defensoria Pública
Presta orientação, defesa em juízo das vítimas e apoio psicológico. Contato: 0800-644-5556.
Disque-denúncia
Pelo número 180, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência presta auxílio 24 horas todos os dias.