A pandemia forçou uma parada obrigatória na rotina atribulada e colocou em xeque hábitos, crenças e valores que costumavam passar despercebidos antes do mundo virar do avesso. E sabe qual item do look foi parar no centro do debate? O sutiã.
Nas redes sociais, algumas mulheres compartilharam relatos sobre como o confinamento serviu para mostrar que o acessório não é obrigatório no dia a dia - e elas prometem seguir sem a peça quando a vida voltar ao normal. Já outras optaram por modelos mais leves e confortáveis, embora admitam que não pensam em abrir mão do item.
E você já pensou sobre o assunto? Questionamos as integrantes do Grupo da Beleza e do Grupo de Mães Donna no Facebook sobre o tema. Veja abaixo como as mulheres estão encarando a necessidade (ou não) do acessório na pandemia e como estão repensando seus hábitos para a vida pós-coronavírus:
Só para sair - e para evitar olhares
"Ao chegar em casa, sempre foi a primeira coisa a fazer: tirar o sutiã. E, no verão, colocar a roupa mais leve e também ficar sem calcinha... Sempre adorei a sensação de não vestir nada. Agora, na quarentena, só lembro dele quando preciso sair, mas, dependendo da roupa, nem tenho colocado.
Acho que se torna necessário para frequentar alguns ambientes que tenham muitos homens, porque eles acabam nos constrangendo, infelizmente. Vou seguir usando o mínimo possível, até porque não acredito na mudança de comportamento deles. Até pode acontecer, mas ainda tomará muito tempo para ser expressiva de fato a ponto de nos deixar à vontade.
Admiro muito as mais jovens que não se importam tanto e não se deixam reprimir com esse comportamento masculino. O número de não adeptas ao sutiã é muito maior entre elas, conforme minha percepção. Elas contribuem muito para incentivar outras mulheres a não usar essa peça. Eu mesma me influenciei, com certeza."
Fernanda Sequeira, 40 anos, publicitária de Porto Alegre
Liberdade inesperada
"Desde o primeiro dia de quarentena, abandonei o sutiã e coloquei somente para fazer exercícios físicos (top) pela necessidade. Foi uma decisão sem pensar muito, simplesmente não usei mais. Me sinto mais livre.
Não que não existam sutiãs mais confortáveis, mas, por hábito, os meus eram todos com ferrinhos e detalhes em rendas, tornando, na maioria das vezes, o uso desconfortável.
Quando acabar a quarentena, vai depender muito da roupa que estarei usando - por exemplo, uma blusa com transparência pede, mas, se puder não usar, ficará na gaveta."
Emanuelle Graziottin Colossi, 40 anos, psicóloga de Porto Alegre
Troca pelo top
"Há três anos, venho trocando o sutiã pelo top. Decidi não usar mais porque eu fiquei desempregada, aí não tinha aquele compromisso de sair todos os dias de casa, então aderi ao top. É uma sensação de liberdade, é como se o sutiã me deixasse presa.
Isso só se intensificou ainda mais com a quarentena. Depois do coronavírus, vou continuar usando tops definitivamente, já faz parte da minha vida. Já comprei até alguns para usar com outras peças mais formais. Adeus, sutiã."
Marleide da Silva Feitoza, 44 anos, Técnica de Enfermagem, Porto Alegre
Hora de repensar
"Acho sutiã desconfortável há muito tempo, mas, mesmo assim, uso e não consigo me imaginar sair na rua sem. Com a quarentena, passei a trabalhar em casa e, com isso, deixei de usar.
Tenho filhas jovens que não gostam e são a favor de abolir o uso, então, não fui questionada por ninguém sobre a decisão. Acho os sutiãs atuais muito desconfortáveis, tem o arame (que eu sempre tiro), os formatos de bojo, tamanho de bojo e circunferência que não fecham no meu caso. Nos últimos anos, tenho tido dificuldade de achar modelos que fiquem bem em mim.
O que me impede de deixar de usar são questões estéticas mesmo, tenho pouco busto e, pela idade, gosto de sentir que está tudo no lugar, o sutiã favorece isso.
Sei que quando começar a circular por aí novamente eu voltarei a usar, mas esse período sem o sutiã tem me ajudando a pensar sobre o assunto, a pesquisar mais modelos confortáveis e menos estéticos, menos renda e mais conforto, modelos tipo top, por exemplo. "
Márcia Ozório, 45 anos, psicóloga de Porto Alegre
Em casa, nada de sutiã
"Usar sutiã em casa, para mim, nunca foi um hábito. Agora, então, nem sei mais o que é isso. Uso somente se preciso sair. Se eu disser que para mim é desconfortável, vou mentir, porque uso modelos confortáveis, mas eu amo a sensação de liberdade que é estar sem o sutiã. Nunca pensei na peça como prisão, eu uso sem problema se preciso, mas, em casa, podendo ficar sem, fico.
Uso na rua mais por pudor e estética também, pois já amamentei dois filhos. Já me questionaram como eu conseguia ficar sem sutiã, que iam cair meus seios. Respondi que já tinha amamentado dois filhos, que já tinha caído o que tinha para cair e, para mim, conforto vem em primeiro lugar. Sinceramente, não sei como vai ser quando acabar a quarentena, acho que vou colocar quando sair e quando voltar pra casa a primeira coisa que vou fazer é tirar. "
Cármen Dias, 36 anos, pedagoga de Bagé
Para driblar o preconceito
"Nunca fui muito adepta, nem na rua. Na quarentena, tenho me sentido cada vez mais à vontade para não usar. A minha decisão foi muito natural. Na minha família, um dos principais argumentos para disfarçar o "pudor" era “faz bem para a coluna, dá um suporte para o peso”. Como tenho seios pequenos, nunca assimilei essa orientação e, quando podia, não usava.
A quarentena trouxe algo de valorizar o conforto, já que nossa liberdade está vinculada a nossa sobrevivência. Então, resolvi que não preciso e nem mereço ficar presa nesse tipo de padrão. Minhas filhas não estranham, pelo contrário, até respeitam muito, mas elas escolhem usar. Mais de uma vez conversamos sobre isso e elas se mantém na posição do conforto que sentem usando. Ambas têm mais seios do que eu e talvez, de alguma forma, seja essa a diferença.
Minha família tem o hábito de usar sutiã sempre e me cobram ou cobravam antes da quarentena... Cansei de escutar: “Que feio andar com os peitos aparecendo”. Sinto um certo preconceito porque, em algumas situações, os decotes delas eram grandes e os seios ficavam muito mais expostos. Tenho certeza que não voltarei a usar no pós-pandemia. Relaciono o sutiã a uma prisão, a uma forma de impedir sensações, impedir a liberdade."
Cintia Jardim, 46 anos, jornalista de Porto Alegre
O poder da escolha
"A decisão de abrir mão do sutiã na quarentena foi uma opção pelo conforto que sinto ao estar sem a peça. Não acho que seja uma prisão, sou a favor de ser um acessório opcional para as mulheres, não algo obrigatório. Quem quer que use e seja feliz, sem problemas.
Particularmente, acho desconfortável. Antes da quarentena, usava quando achava que a roupa pedia, quando ficava melhor. Se usava roupas largas, podia sair sem, mas era raro. Acho que, esteticamente, fica mais bonito na roupa.
Repenso o uso quando acabar a quarentena porque estou passando tanto tempo sem o sutiã e sinto que não faz falta, não está gerando aquele estranhamento visual quando me olho só de blusa. Acredito que não vou deixar o uso totalmente, sei que o costume do uso vai imperar em muitas oportunidades, mas esse uso vai ser repensado. É o meu corpo e eu posso escolher o que visto ou não."
Cristiane Magno, 31 anos, jornalista de Porto Alegre
Sem sutiã, mas com top
"Há quatro anos troquei o sutiã com ferro e bojo por tops leves, com ou sem alças. Essa decisão se deu pela minha dificuldade de achar um sutiã para o meu tamanho, mas também passou por uma reflexão minha sobre a necessidade de usar essa peça, que considero tão desconfortável. Sou plus size, mas tenho o peito pequeno. Achar um sutiã que funcionasse para mim era uma saga que eu já estava cansada.
Às vezes, quando comento com outras mulheres da minha decisão, elas ficam surpresas. O uso do sutiã é tão naturalizado que há mulheres que nunca pensaram na possibilidade de abandoná-lo, algumas não tiram a peça nem para dormir.
Agora, na quarentena, não passo perto nem dos meus tops. Uso raramente quando preciso sair e se estou usando uma blusa que evidencie muito os mamilos. Se estou de casaco, nem uso.
Sutiã é loucura. Ninguém precisa realmente passar por isso. É uma peça que marca o corpo, "tranca" a circulação, aperta, é desconfortável. Quando a quarentena acabar, vou seguir usando meus tops quando achar conveniente e deixando os peitos livres sempre que tiver vontade. A sociedade ainda censura mamilos femininos, eles não podem aparecer, nem marcar na roupa. Por esse motivo ainda não me sinto à vontade para abandonar os tops também."
Drica Bolzan, 32 anos, maquiadora de Porto Alegre
Só quando sair
"Desde a adolescência, acho uma peça desconfortável, então, só utilizava quando precisava sair. Em casa, sempre sem, nem o top me deixa confortável. Mas, por convenção social, precisava usar, para não deixar aparente ao usar uma blusa mais justa ou clara.
A quarentena me possibilitou trabalhar sem, estou lecionando em home office, sem o sutiã, o que para mim é qualidade de vida. Quando voltar ao trabalho presencial, terei que utilizar novamente, para não me expor ou ficar insinuante, pois trabalho com adolescentes. Existe a sexualização do corpo da mulher - se isso não existisse, manteria minha vida sem essa peça desagradável.
Para mim, o sutiã nunca foi essencial, é uma peça que sempre questionei a necessidade de utilizar, e nunca será importante, apenas utilizo por uma imposição social. Nada mais libertador do que colocar uma blusa de algodão sem o maldito sutiã por baixo."
Vanessa Rossoni, 36 anos, professora de geografia de Porto Alegre